PORTAL ESCOLA
DOMINICAL
QUARTO TRIMESTRE DE 2015
ADULTOS – O COMEÇO DE TODAS AS COISAS – Estudos sobre o livro de Gênesis
COMENTARISTA : CLAUDIONOR CORREA DE ANDRADE
QUARTO TRIMESTRE DE 2015
ADULTOS – O COMEÇO DE TODAS AS COISAS – Estudos sobre o livro de Gênesis
COMENTARISTA : CLAUDIONOR CORREA DE ANDRADE
Lição 8: O início do governo humano
O INÍCIO DO GOVERNO
HUMANO No recomeço
da humanidade, Deus entregou ao homem a administração da justiça.
INTRODUÇÃO - Na sequência do estudo do livro do
Gênesis, analisaremos hoje o estudo da primeira parte do capítulo 9, quando se
institui a dispensação do governo humano. - No recomeço da humanidade, Deus
entregou ao homem a administração da justiça.
I – O PACTO NOAICO - Deus havia destruído a humanidade
com o dilúvio, mas havia poupado Noé e sua família, porque ele havia sido achado justo aos olhos do Senhor (Gn.7:1).
- Quando o Senhor autorizou Noé e sua família a sair da arca,
mais de um ano depois do início do dilúvio, Noé tomou a iniciativa de adorar a
Deus, sacrificando animais limpos em gratidão pelo livramento de que fora alvo
(Gn.8:20). Por causa desta iniciativa, o Senhor tomou a deliberação de nunca
mais destruir a Terra com um dilúvio, tendo, então, Noé se tornado uma bênção
para toda a humanidade (Gn.8:21,22).
- Quando o Senhor avisou a Noé a respeito da destruição da
Terra com o dilúvio, Ele já havia dito ao patriarca que se estabeleceria um
pacto entre Deus e ele (Gn.6:18). - Tal afirmação divina mostra-nos que Deus
tem sempre interesse em estabelecer um relacionamento com o homem, visando
sempre o bem da humanidade, tendo por objetivo a salvação, o restabelecimento
da comunhão perdida com a entrada do pecado no mundo.
- Ao mesmo tempo em que anunciava a destruição da geração
rebelde que vivia no período antediluviano, o Senhor, ao dizer a Noé que
estabeleceria com ele um pacto, estava mantendo de pé a promessa da redenção
feita ao primeiro casal, como também indicando que se mudaria a dispensação, ou
seja, a partir do dilúvio, Deus, no Seu imutável propósito de redimir o homem,
passaria a tratar com o homem de um outro modo, de uma outra forma, de uma
outra maneira.
- Cyrus Scofield (1843-1921) conceitua dispensação como “um
período de tempo durante o qual o homem é provado quanto à obediência a alguma
revelação específica da vontade de Deus”. Diz ainda o grande divulgador do
dispensacionalismo: “cada dispensação pode ser considerada uma nova prova do
homem natural, e cada uma termina em juízo, evidenciando o completo fracasso do
ser humano.”
- Segundo esta linha de pensamento, portanto, temos que Deus,
no Seu plano para a salvação do homem, vai progressivamente Se revelando ao
homem, apresentando ao homem, ao longo da história, o Seu amor e o Seu
interesse em que haja o restabelecimento da comunhão perdida com o pecado.
- Esta revelação progressiva de Deus ao homem faz com que o
homem, seguidamente, verifique o seu fracasso em se manter fiel a Deus, até que
se encontra o ponto culminante deste processo, em que Deus Se faz homem e
alcança para a humanidade a eterna redenção.
A dispensação, portanto, é uma forma de Deus administrar o
Seu plano de salvação para a humanidade, dentro da Sua revelação progressiva ao
homem, que encontra sua culminância no instante em que Ele mesmo Se revela aos
homens na pessoa de Cristo Jesus, na “plenitude dos tempos” (Gl.4:4).
- Depois de ter decidido não mais destruir o homem com um
dilúvio, o Senhor abençoou a Noé e a seus filhos, reafirmando-lhes o propósito
divino para o ser humano, dado ao primeiro casal, qual seja, o propósito de
frutificação, multiplicação e enchimento da terra (Gn.9:1).
- Observamos, portanto, que, embora tenha havido a
modificação da dispensação, Deus continuou sendo o mesmo, pois Ele não muda
(Ml.3:6; Tg.1:17), tanto que tudo quanto fez ao primeiro casal, à primeira
família no Éden, também voltava a fazer para Noé e sua família, trazendo a
bênção e determinando que eles frutificassem, multiplicassem e enchessem a
Terra.
- Por isso, não podemos, de modo algum, querer
“contextualizar” a Palavra de Deus, no sentido de entender que devam as
Escrituras Sagradas adquirir novos significados e novos parâmetros por causa da
“mudança dos tempos”. A Palavra de Deus não se altera por causa da passagem do
tempo, pois ela permanece para sempre (I Pe.1:25).
- Noé tinha o encargo de repovoar a terra, de recomeçar a
humanidade, juntamente com a sua família, e, portanto, deveria atender a todos
os propósitos divinos, que permaneciam os mesmos.
- No entanto, se Deus não muda, isto não ocorre com o homem.
Noé agora estava numa terra diferente, que, por causa do dilúvio, havia sofrido
importantes alterações. A primeira é de que, doravante, haveria diversidade de
climas, como também as estações do ano, já que a camada de águas que havia na
atmosfera não mais existia, derramada que havia sido perante a superfície da
Terra.
- Por isso, o Senhor indica a Noé que, doravante, por parte
da criação terrena pavor e temor em relação ao homem, uma vez que o homem
permaneceria tendo o domínio sobre a criação terrena (Gn.9:2). Tem-se aqui, na
verdade, mais um distanciamento entre o homem e a natureza, consequência da
intensificação do pecado que levara ao juízo do dilúvio. Deus deixava de agir
somente pela consciência do homem, mas se estabelecia um terror e pavor das
criaturas terrenas em relação ao ser humano precisamente para se dar ao homem
mais um sinal, agora objetivo, de que o pecado trazia uma profunda
desintegração e que, por isso, se deveria buscar ao Senhor e se aguardar a
promessa da vinda da “semente da mulher” que restabeleceria esta comunhão perdida.
- Além deste pavor e temor, Deus, também, passava a autorizar
o consumo de carne. O homem e outros animais (e até alguns vegetais) deixavam
de ser herbívoros, para serem carnívoros ou onívoros. A partir do dilúvio,
diante das mudanças climáticas, foi alterada a dieta alimentar de algumas
criaturas, passando o homem a poder ingerir carne (Gn.9:3,4).
- No entanto, nesta modificação de dieta, o Senhor proibiu o
consumo de sangue, onde estava a “vida” dos animais. Com efeito, vemos aqui que
o sangue era o elemento que permitia a manutenção da vida nos animais, o que se
demonstrou posteriormente pela ciência, que mostra ser o sangue o elemento que
leva o oxigênio a todas as células do corpo, possibilitando a mantença da vida.
- Esta proibição de ingestão de sangue nada tem que ver com a
consideração do sangue como “alma” do corpo, como ensinam equivocadamente as
Testemunhas de Jeová. A alma do homem é imaterial e, portanto, não se confunde
com o sangue. A vedação diz respeito à alimentação, não havendo, também, nesta
determinação divina, qualquer proibição para a transfusão de sangue, até porque
tudo quanto represente a manutenção da vida é algo que deva ser prestigiado e
defendido pelos servos do Senhor.
- Além disto, a proibição do consumo do sangue era um indicador
de como se daria a redenção da humanidade, pelo derramamento do sangue inocente
da “semente da mulher”, que daria a sua vida pelo
homem. Desde o Éden, quando o Senhor havia derramado sangue
de um animal para dar túnicas de peles ao primeiro casal (Gn.3:21), havia uma
sacralidade no derramamento do sangue, o que era de pleno conhecimento de Noé,
que havia sacrificado animais em gratidão ao Senhor (Gn.8:20). Era, pois, uma
ação de reverência a Deus, o reconhecimento de que Deus era o dono da vida e
que, portanto, não se poderia profanar este elemento representativo da vida.
- E, por falar em vida, o Senhor reafirmou o Seu senhorio sobre
a vida dizendo a Noé que requereria o sangue de cada ser humano da mão de todo
o animal como também da mão de todo de homem e da mão do irmão de cada um
(Gn.9:5).
- O Senhor retomava aqui o gérmen que havia levado toda a
humanidade à destruição, que tinha sido o homicídio praticado por Caim,
oportunidade em que ele disse que não se sentia “guardador do seu irmão”
(Gn.4:9), atitude que havia permitido que, ao longo dos anos, toda a terra se
enchesse de violência (Gn.6:11).
- O Senhor apresenta-Se como o dono da vida, dizendo que o
ser humano jamais poderia derramar o sangue de outro ser humano. Se o fizesse,
o Senhor requereria este sangue da mão do homem, pois todo ser humano deveria
verificar que todo homem é irmão do seu próximo.
- O Senhor ainda disse que quem derramasse o sangue do homem,
pelo homem o seu sangue seria derramado, porque o homem era imagem de Deus e,
portanto, não poderia qualquer ser humano ceifar a vida de outro (Gn.9:6).
- Esta passagem deste pacto que Deus estava estabelecendo com
Noé, pacto que é chamado pelos estudiosos das Escrituras de “pacto noaico”, é
fonte de grandes discussões, pois alguns veem aqui o estabelecimento da pena de
morte, enquanto que outros veem aqui precisamente a proibição da pena de morte.
- Entendem alguns que quando o Senhor disse que quem
derramasse o sangue do homem pelo homem o seu sangue seria derramado estava a
permitir que o homem aplicasse a pena de morte ao homicida. Teria havido aqui a
delegação ao homem da aplicação da justiça, inclusive com a morte daquele que
matasse alguém.
- Outros, no entanto, veem aqui que o Senhor toma para Si a
aplicação desta “pena de morte”. Ao dizer que o sangue do homicida seria
derramado pelo homem, o Senhor não estaria a delegar aos homens a possibilidade
de matar o homicida, mas, sim, uma vez que o homem é “imagem de Deus”, estaria
dizendo que Ele próprio, dentro da lei da semeadura, Se incumbiria de aplicar a
morte ao homicida, usando o ser humano para isso, mas não delegando aos homens
a aplicação da pena de morte.
- Parece-nos que esta última posição é a correta, pois o
Senhor diz que requereria Ele próprio o sangue do homem, ou seja, não daria ao
ser humano o poder de ceifar a vida do homicida, pois o homem é “imagem de
Deus”, a vida é algo dado pelo próprio Senhor (I Sm.2:6) e, deste modo, não é
algo que possa ser impunemente retirado pelo homem de seu próximo. O texto é
bem claro ao dizer que o homem foi feito por Deus e, portanto, só Ele pode
retirar a vida de um ser humano.
- O texto mostra, ademais, que Deus, ao excluir a vida do
domínio humano, estava pondo os limites daquilo que viria a ser o “governo
humano”, ou seja, a delegação ao homem da administração da justiça, que será o
grande diferencial desta nova dispensação. - O homem não poderia ceifar a vida
do seu próximo, não lhe era isto delegado, pois o único dono da vida é o
Senhor, mas deveria cumprir o propósito divino estabelecido ao ser humano,
frutificando, multiplicando e povoando abundantemente a terra, multiplicando-se
nela (Gn.9:7).
- A frutificação tem a ver com o estabelecimento de uma
comunhão com Deus, com a construção de uma vida agradável a Deus. Trata-se de
produção do fruto do Espírito (Gl.5:22), de frutos de justiça (Fp.1:11).A
multiplicação tem a ver com a reprodução. A terra estava desabitada, depois da
destruição de toda carne sobre a face da Terra com o dilúvio, e havia, então, a
necessidade de se repovoar a Terra, terra que deveria ser abundantemente
povoada. O Senhor reafirma que a humanidade deveria se dispersar por todo o
planeta, algo que não tinha sido feito, ao menos em grande escala, pela geração
anterior e que, apesar da ordem reafirmada, somente se daria após o término da
dispensação do governo humano.
- Vemos aqui, mais uma vez, a necessidade que Deus dá a que
as famílias tenham filhos, o dever da procriação, algo que tem sido
profundamente negligenciado em nossos dias, onde a mentalidade de controle da
natalidade, que tem raízes no “espírito do anticristo”, tem dominado inclusive
a mente de muitos que cristãos se dizem ser.
- O “pacto noaico” é chamado pelos doutores da lei judeus de
“os sete preceitos dos descendentes de Noé”, onde estariam as bases e os
parâmetros estabelecidos por Deus a toda a humanidade, as bases da ética e da
moralidade. Tanto assim é que, quando do concílio de Jerusalém, tais preceitos
foram reafirmados e ditos que deveriam ser seguidos por todos os cristãos
gentios (At.15:28,29).
- Este pacto, segundo estes doutores da lei, continham as
mesmas disposições que Deus havia dado ao primeiro casal no Éden, com a
inclusão da proibição do consumo de carne, a nos mostrar, uma vez mais, a
imutabilidade da Palavra de Deus. OBS: “…Rabi Johanan respondeu: O escrito diz:
‘E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás
livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás, porque,
no dia em que dela comeres, certamente morrerás’ [Gn.2:16,17] E [Ele] ordenou
refere-se às leis sociais e, por isso, está escrito: ‘Porque Eu o tenho
conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para
que guardem o caminho do Senhor, para obrarem com justiça e juízo [Gn.18:19](…)
Deus é [uma injunção] contra a idolatria, pois está escrito: ‘Não terás outros
deuses diante de Mim’ [Ex.20:3] (…) Quando veio o Rabi Isaac, ele trouxe uma
interpretação contrária. E ele ordenou – refere-se à idolatria. Deus [Elohim]
para as leis sociais. Agora ‘Deus’ pode corretamente se referir às leis
sociais, como está escrito: ‘…o dono da casa será levado diante dos juízes…
(elohim) [Ex.22:8]…” (TALMUDE da Babilônia. Tratado Sanhedrin 56b. Disponível
em: http://www.come-and-hear.com/sanhedrin/sanhedrin_56.html
Acesso em 19 nov. 2014) (tradução nossa de texto em inglês) (destaques
originais)
- Os rabinos viram em Gn.2:16,17 os preceitos morais, os
elementos do mundo moral, chamados de “sete preceitos dos descendentes de Noé”,
já que tudo foi repetido e reafirmado para Noé após o dilúvio. OBS: ““…Nossos
mestres ensinam: sete preceitos foram ordenados aos filhos de Noé: leis
sociais, para refrear da blasfêmia, idolatria, adultério, derramamento de
sangue, roubo e de comer carne de um animal vivo…" (TALMUDE DA BABILÔNIA.
Sanhedrin, 56a. Disponível em: http://www.come-and-hear.com/sanhedrin/sanhedrin_56.html
Acesso em 04 nov. 2014) (tradução nossa de texto em inglês).
- Primeiro preceito (Avodah zarah) – Proibição da idolatria –
“ordenou” ou “Deus” – Se Deus ordena, é porque Ele é o Senhor, não havendo pois
outros deuses, sendo impossível se submeter a outrem que não o próprio Deus. Se
Ele é “Deus”, não há outro. – Dt.6:4; Is.43:10,11. A idolatria é proibida a
todas as nações, a todos os homens – Rm.1:18-23. Outras nações que não Israel
foram punidas por causa de sua idolatria – Gn.11:7-9; 15:16. - Segundo preceito
(Birkat Hashem) – Proibição de blasfêmia – ‘Senhor” – Se Deus é Senhor, deve
ser obedecido, não pode ser contrariado, não pode ser ofendido, não pode ser
menosprezado, desprezado, considerado algo vil – Lv.24:16; II Cr.32:17;
Sl.14:1-3; I Pe.3:16; Ap.2:9.
- Terceiro preceito (Shefichat damim) – Proibição do
assassinato – “homem” – Só Deus é o dono da vida (I Sm.2:6) e todo homem é
imagem e semelhança de Deus e, portanto, só Deus pode retirar-lhe a vida
(Gn.9:5,6). - Quarto preceito (Gilul arayot) – Proibição da imoralidade sexual
– “dizendo” – Somente se pode comunicar e estabelecer comunhão com o cônjuge,
com quem se faz um só diante de Deus (Gn.2:24). – ‘Dizendo” leva-nos a
Jr.3:1,2.
- Quinto preceito (Gezel) – Proibição do roubo – “toda
árvore”. Se temos de ter autorização de Deus para comer das árvores do jardim
do Éden, isto é sinal de que não podemos usar das coisas sem autorização do seu
dono. - Sexto preceito (Ever min ha-chai) – Proibição de comer com sangue –
“comerás livremente”. Somente podemos comer daquilo que já está pronto para comer,
ou seja, daquilo que já está devidamente morto, sem sangue, que representa a
“vida” (Gn.9:4) - Sétimo preceito (Dinim) – Estabelecimento de leis de
honestidade e justiça – “ordenou”, “Deus” – Deus quer que o homem viva de
acordo com a Sua vontade e, portanto, é preciso estabelecer regras de
convivência que estejam em conformidade com a vontade do Senhor e um sistema
judicial que aplique a vontade do Senhor na sociedade – Ex.18:21-23; Rm.13:1-7.
- Este último preceito dá ideia propriamente do que se denomina
“governo humano”. O Senhor não iria mais aplicar diretamente a justiça sobre a
humanidade, pois não iria mais destruir a Terra com água, não iria mais fazer
um novo dilúvio (Gn.9:9-11). Com exceção da vida, tudo o mais deveria ser
tratado pelo homem, que deveria administrar a justiça, criando um sistema de
leis pelos quais se disciplinaria a convivência entre os homens e o próprio
relacionamento do homem com a natureza.
- Ao determinar que o homem administrasse a justiça, estava
mandando que o ser humano tomasse as devidas providências para que, na
sociedade, fossem observados os parâmetros estabelecidos por Deus para a
convivência humana. É por isso que esta dispensação é chamada de “governo
humano”, pois o Senhor mandou que o homem “governasse” as relações entre si,
logicamente sob os princípios estatuídos por Deus.
- Por que o Senhor determinou que o homem passasse a
administrar a justiça sobre a face da Terra? Precisamente porque não haveria
mais de lançar um dilúvio sobre a Terra. Quando o Senhor viu que o homem era
continuamente mau, determinou a destruição do homem pelo dilúvio. Para que isto
não mais ocorresse, reconhecendo a falibilidade ínsita ao homem concebido no
pecado (Sl.51:5), cuja imaginação do coração é má desde a meninice (Gn.8:21), mandou
que o homem mesmo cuidasse da administração da justiça, algo que seria falível
e que não traria a destruição total.
- Ao delegar a administração da justiça ao homem, o Senhor
mostra toda a Sua misericórdia e graça, abstendo-se de destruir toda a carne
sobre a face da Terra, abrindo um tempo para que o homem tivesse a oportunidade
de servir a Deus. A partir deste pacto, Deus somente atuaria pontualmente,
quando a Sua longanimidade chega ao limite, como, por exemplo, ocorreu nas
cidades da planície (Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim).
- Por isso, não devemos nos surpreender com a insuficiência
da chamada “justiça dos homens”, insuficiência que é cada vez maior em virtude
da multiplicação do pecado (Mt.24:12). O estabelecimento do governo humano foi
um ato de misericórdia e graça divinas para impedir a imediata aplicação da
justiça a todos os homens, como se fez no dilúvio, para dar tempo ao homem para
se arrepender, para garantir a existência da humanidade até a vinda da redenção
por intermédio de Cristo Jesus.
- Neste pacto noaico, vemos o devido lugar do poder político
e seu relacionamento com Deus. Ao determinar o Senhor que se deveria criar um
sistema de administração da justiça pelos próprios homens, Deus estava a criar
o governo, que é, assim, constituído por Deus (Cf. Rm.13:1), mas com propósitos
bem determinados.
- As autoridades são constituídas por Deus com o propósito
primeiro de administrar a justiça, de castigar os maus (Rm.13:3,4). É este o
primeiro papel de um governo, impedir a impunidade, não permitir que as pessoas
que vivam em desacordo com os princípios divinos estabelecidos para a
convivência entre os homens fiquem impunes e tenham vantagem.
- Por isso, o “espírito do anticristo” tem instituído em
todas as nações do mundo, neste período imediatamente anterior ao arrebatamento
da Igreja, uma cultura da impunidade, uma permissividade cada vez mais
crescente, fazendo com que se tenha um ambiente de grande injustiça e de vazio
governamental, preparando, assim, uma sede pelo estabelecimento de um poder,
que será suprida pelo Anticristo, em que, entretanto, em vez de se ter um
governo consoante os parâmetros divinos, haverá a deificação do homem e a
indevida assunção do lugar de Deus pelo homem.
- A correta posição do governo é a de ser “ministro de Deus”,
ou seja, “servo do Senhor”, ou seja, deve tão somente implementar leis que
estejam de acordo com os princípios estabelecidos por Deus, pois Deus é o
Senhor, Deus é o soberano.
- O poder político foi criado para servir aos propósitos
divinos, não para dominar sobre os homens como se Deus não existisse, como
acontece no sistema gentílico que seria estabelecido precisamente na
dispensação do governo humano, um sistema de rebeldia contra Deus e que poria
fim a esta dispensação.
- Por isso, devemos, sim, obedecer às autoridades, pois quem
não o faz estará a resistir ao próprio Deus (Rm.13:2), mas jamais devemos,
nesta obediência, consentir com o “abuso de autoridade”, ou seja, o momento em
que a autoridade deixa de servir aos propósitos divinos para querer colocar-se
no lugar do próprio Deus, como, aliás, os apóstolos deixaram claro ao dizer aos
membros do Sinédrio, o órgão máximo do poder político-religioso judeu nos
tempos da dominação romana, que mais importava obedecer a Deus que aos homens
(At.5:29).
- Deste modo, como servos de Deus, devemos, sim, obedecer às
autoridades, interceder diante de Deus por elas (Cf. I Tm.2:1-3), mas, jamais
poderemos compactuar com medidas delas provenientes que afrontem a Palavra de
Deus, que contrariem os princípios bíblicos, devendo, neste caso, manter nossa
obediência ao Senhor, nem que isto signifique uma desobediência civil, que
deverá sempre se fazer mediante a resistência pacífica e a denúncia dos
desmandos e desvios proferidos pelos governantes que se rebelarem contra a sã
doutrina.
II – O SINAL DO PACTO
NOAICO - Como
demonstração de que, doravante, Deus não iria falar com o homem apenas através
da consciência, mas que se incluíam agora elementos objetivos, situados fora do
ser humano, como a própria administração da justiça, foi dado um sinal cósmico
para este pacto, a saber, o arco-íris, “o arco do Senhor posto na nuvem”
(Gn.9:13).
- Esta afirmação bíblica mostra toda a confluência e harmonia
que há entre a revelação divina e a ciência. Por primeiro, fala-se em “nuvem”,
uma realidade que somente exsurgiu na Terra depois do dilúvio, com o fim
daquela uniformidade climática, ante a extinção daquela camada de águas que
antes havia na atmosfera, pois a nuvem nada mais é que “um conjunto visível de
partículas diminutas de gelo ou água em seu estado líquido ou ainda de ambos ao
mesmo tempo (mistas), que se encontram em suspensão na atmosfera, após terem se
condensado ou liquefeito em virtude de fenômenos atmosféricos. A nuvem pode
também conter partículas de água líquida ou de gelo em maiores dimensões e
partículas procedentes, por exemplo, de vapores industriais, de fumaças ou de
poeiras…” (Nuvem. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nuvem
Acesso em 08 set. 2015).
- Bem se vê, portanto, que, após o dilúvio, passou a existir
um diferente ciclo da água no planeta, com o estabelecimento das estações do
ano e de um sistema de chuvas, até então inexistente sobre a face da Terra. As
nuvens passaram, assim, a ser uma nova paisagem na atmosfera e, nestas nuvens,
que eram decorrência do juízo divino, o Senhor estabelece um sinal para lembrar
ao homem que jamais iria novamente destruir a Terra com água.
- Este sinal era o arco-íris. Mas o que é o arco-íris? “Um
arco-íris (também chamado arco-celeste, arco-daaliança, arco-da-chuva,
arco-da-velha) é um fenômeno óptico e meteorológico que separa a luz do sol em
seu espectro (aproximadamente) contínuo quando o sol brilha sobre gotas de
chuva. É um arco multicolorido com o vermelho no seu exterior e o violeta em seu
interior; a ordem completa é vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil (ou
índigo) e violeta” (Arco-íris. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arco-%C3%ADris
Acesso em 08 set. 2015).
- Vemos, pela própria definição científica do arco-íris, que
ele somente foi possível depois do dilúvio, vez que se trata de um fenômeno
óptico e meteorológico que separa a luz do sol das gotas de chuva, ou seja,
algo somente possível depois da modificação relativa ao ciclo da água
ocasionado pelo dilúvio, com a extinção da camada de águas que havia na parte
superior da atmosfera e que mantinha a Terra sob uma uniformidade climática.
- Isto serve para mostrar, uma vez mais, que não qualquer
divergência entre as Escrituras Sagradas e a ciência, pois enquanto a Bíblia
revela a verdade, sendo ela própria a verdade (Jo.17:17), a ciência é um
esforço humano para se descobrir a verdade através do uso da razão, dentro
daquilo que Deus deu a cada ser humano (Ec.1:13) e, como a verdade é uma só,
evidentemente a ciência tende a chegar à mesma conclusão da revelação.
- Por isso, não tem sentido algum o chamado
“anti-intelectualismo”, que é a postura, infelizmente seguida por muitos que
cristãos se dizem ser, de que o servo de Jesus Cristo não deve estudar nem se
enfronhar na ciência, pois isto conduziria a um “desvio da fé”, como se a
ciência se opusesse à verdade bíblica, mentira que tem sido contada ao longo
dos últimos dois séculos.
- O que existe é uma “falsa ciência”, cujo objetivo não é
trazer conhecimentos nem tampouco encontrar a verdade, mas, sim e tão somente,
opor-se à Bíblia Sagrada, como já nos dava conta o apóstolo Paulo em I Tm.6:20,
Paulo, aliás, um erudito no seu tempo.
- Como já dizia o saudoso irmão Sérgio Paulo Gomes de Abreu,
fundador do Portal Escola Dominical, não nos impressionemos quando Bíblia e
ciência divergem, pois, um dia, a ciência chegará à verdade e concluirá no
mesmo sentido da revelação divina.
- Quando o homem visse o arco-íris, deveria se lembrar de que
Deus havia prometido de que nunca mais destruiria a terra com água, de que
havia um compromisso firmado com o homem de que, doravante, nunca mais
ocorreria um dilúvio, prova de que, como já dissemos na lição anterior, o
dilúvio foi universal, visto que ainda ocorrem grandes inundações sobre a face
da Terra, como foi o caso do “tsunami” que abrangeu diversos países da Ásia em
2005, com mais de 200 mil mortes, mas que não abrangeram toda a Terra como
ocorreu com o dilúvio presenciado por Noé e sua família.
- O arco-íris é um eloquente sinal, situado fora da
consciência do homem, fora do seu interior, que está a demonstrar toda a graça
e misericórdia divina. Toda vez que vemos o arco-íris, devemos nos lembrar da
solene promessa de que Deus não iria destruir a humanidade com o dilúvio, apesar
de o homem continuar tendo uma natureza pecaminosa, da imaginação do seu
coração ser má continuamente (Gn.8:20).
- O homem não havia mudado, era incapaz de, por si só,
modificar a sua maneira de ser, mas o Senhor, fiel à Sua promessa de que, da
semente da mulher, viria alguém que restabeleceria esta comunhão com Ele,
suportaria toda a maldade humana, toleraria a presença do pecado até a
“plenitude dos tempos”, para mostrar que amava o homem e queria o seu bem.
- Deus não estaria a consentir com o pecado, mas estaria a
dar uma real oportunidade de salvação ao pecador. Tanto não toleraria o pecado
que determinou ao homem que elaborasse um sistema de administração da justiça,
criando leis que levassem os homens, na sua convivência com o próximo, a obedecer
aos preceitos estabelecidos pelo próprio Deus e constantes do “pacto noaico”,
como também que respeitasse a vida do próximo, intervindo o próprio Senhor
diretamente quando o postulado da defesa da vida não fosse observado.
- No entanto, mesmo diante desta maldade ínsita ao homem, o
Senhor, por graça e misericórdia, Se absteria de tornar a mandar um novo
dilúvio sobre a face da Terra, deixando a marca nas nuvens, o arco-íris, para
que o homem, diante desta dupla face de Deus, a justiça e a misericórdia, se
esforçasse para fazer a vontade divina, para cumprir os preceitos por Ele
estabelecidos, confiando e esperança o cumprimento da promessa da redenção por
meio da “semente da mulher”.
- O arco-íris representava a longanimidade divina, a
paciência de Deus para com o homem, pois Noé não deveria se esquecer do que
havia profetizado Enoque, o sétimo depois de Adão, de que todos os ímpios
haveriam de ser devidamente punidos pelo Senhor no tempo oportuno (Jd.14,15),
profecia, aliás, na qual o patriarca havia crido e, por isso, sido um varão
reto e justo em suas gerações, o que fez com que fosse agraciado pelo Senhor
com o seu livramento do dilúvio (Gn.6:8,9; 7:1).
- Deus disse que toda vez que houvesse nuvens no céu,
prenunciando uma grande chuva, Ele Se lembraria do Seu concerto com a
humanidade e o arco-íris apareceria como lembrança da promessa divina, como
sinal de Sua fidelidade, sinal que diria que nunca mais haveria um dilúvio
sobre a face da Terra.
- “…O efeito do arco-íris pode ser observado sempre que existirem
gotas de água suspensas no ar e a luz do sol estiver brilhando acima do
observador em uma baixa altitude ou ângulo. O mais espetacular arco-íris
aparece quando metade do céu ainda está escuro com nuvens de chuva e o
observador está em um local com céu claro. Outro local propício à apreciação do
arco-íris é perto de cachoeiras.…” (Arco-íris. In: WIKIPÉDIA. end.cit.). Nesta
descrição, vemos como o arco-íris exsurge com maior vigor quando metade do céu
ainda está escuro, ou seja, quando há um quadro veemente de chuva, uma
aparência de destruição pela água.
- Após o estabelecimento do pacto, é dito que Noé e sua
família, cumprindo o propósito divino, fez o recomeço da vida sobre a face da
Terra, buscando frutificar, multiplicar e encher a Terra como determinado, pois
todas as nações existentes sobre a face da Terra descendem dos filhos de Noé, a
saber: Sem, Cão e Jafé, pois, como diz Gn.9:19, “…destes se povoou toda a
terra”.
- No entanto, como sói ocorrer com relação ao homem em todos
os pactos firmados por Deus, não duraria muito e o homem haveria novamente de
fracassar, a começar no seio da família do próprio Noé, como haveremos de ver
na próxima lição.
Ev. Dr. Caramuru Afonso
Francisco
0 comentários:
Postar um comentário