segunda-feira, 9 de maio de 2016

Lição 07: A Vida Segundo o Espírito


Romanos 8.1-13
Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne, para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também vivificará o vosso corpo mortal, pelo seu Espírito que em vós habita. De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne, porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.

O Elo que Faltava
“Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (8.1). Anders Nygren, antigo expositor bíblico sueco, destaca que no capítulo 8 de Romanos, Paulo traz a última conclusão de seu tema que havia começado nos capítulos anteriores. Ele mostra agora que o cristão, justificado pela fé, viverá. A vida cristã é descrita não apenas como sendo livre da ira, do pecado e da lei, mas também como sendo livre da morte. Nygren destaca que é importante ter esse paralelo em mente para que se tenha uma correta compreensão do pensamento do apóstolo no capítulo 8 e o que ele havia falado nos capítulos anteriores. Nygren comenta: “O paralelo pode ser visto como relativamente casual, mas serve como indicação de sua conclusão da segunda parte da epístola. O paralelo está presente definitivamente no início. Em cada um desses quatro capítulos o assunto é a liberdade do cristão tratada de uma maneira especial, tendo como referência uma fonte particular de destruição. Em cada caso, Paulo assinala alguma coisa especial através da qual a liberdade é efetuada.
1. O cristão é livre da ira. Esse fato, Paulo fundamenta no amor de Deus em Cristo Jesus (cap. 5).
2. O cristão é livre do pecado. Aqui Paulo se refere ao batismo, através do qual nós fomos incorporados ao “corpo de Cristo”, e que o “corpo do pecado” pode ser destruído (cap. 6).
3. O cristão é livre da lei. Aqui Paulo se refere à morte de Cristo. No ‘corpo de Cristo’ nós morremos para a lei (cap.7).
4. O cristão é livre da morte. Aqui Paulo se refere ao Espírito, pneuma, o Espírito de Cristo é o poder que faz viver (cap. 8)”.
Concluindo, diz Nygren: “Esse paralelo não é acidental. É evidente que esses quatro capítulos abordam a mesma discussão”.
Anders Nygren acertou em estabelecer essa conexão, todavia parece bastante óbvio que o capítulo 8 de Romanos chega como o ápice de tudo que foi dito a partir do capítulo 1. Os cristãos romanos que leram essa carta, sem sombra de dúvida, lembraram-se do que Paulo havia dito nos capítulos anteriores, em especial naquilo que o apóstolo escrevera na segunda parte do capítulo 7.
“Portanto, agora... ” (8.1). Os expositores bíblicos chamam a atenção para a partícula “agora” que aparece no início desse capítulo. Ela é carregada de significado, pois serve para contrastar o que foi dito anteriormente com o que será a partir desse ponto. Como já ficou demonstrado anteriormente, o que Paulo dirá de agora para frente tem relação, em primeiro plano, com a exposição do capítulo 7 e em um segundo plano com tudo o que foi escrito entre os capítulos 7 e 8.
"... nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (8.1). O capítulo 7 deixou o homem em um dilema — sabe que deve fazer o bem, mas acaba por praticar o mal. O homem em Adão é um ser aprisionado, não tem como se autolibertar. Aí vem o grito por socorro: Quem o poderá libertar dessa prisão? Paulo responde que Cristo Jesus é o libertador porque nEle não existe mais prisão alguma. Esse sentido do texto foi bem captado pelo teólogo luterano E. H. Gifford em seu comentário da Carta aos Romanos. Gifford, comentando in loco, diz que “estar em Cristo” não significa nos escritos de Paulo “ser dependente de Cristo” (uso clássico comum), não meramente (como Fritzsch tenta provar) ser seu seguidor ou discípulo, como os pitagóricos ou platônicos eram seguidores de seu mestre. Implica viver em união com Cristo como Ele mesmo fez saber: “... porque eu vivo, e vós vivereis. [...] estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, nele” (Jo 14.19,20; Jo 15.4-7). Essa união com Cristo é frequentemente descrita por João como “estar nele” (1 Jo 2.5,6,24,28; 3 Jo 24; 5.20)”.
Aquele, portanto, que está em Cristo e Cristo está nele não se encontra mais debaixo do jugo. Não há mais nenhuma condenação (gr. katakrima) para ele. A condenação, o jugo, a prisão é desfeita na vida daquele que foi justificado pela fé. A graça o alcançou trazendo liberdade e vida.
“Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (8.2). Aqui está a chave da libertação para a nova vida em Cristo — a lei do Espírito de vida. E essa lei que liberta da lei do pecado e da morte. A lei do pecado imperou impiedosamente sobre todos os homens. Todos ficaram debaixo do seu jugo. Mesmo aqueles que passaram a se reger pela lei mosaica também não ficaram livres dessa condenação. Pelo contrário, a lei do Sinai serviu de espelho para revelar quão mal era a natureza adâmica. Estimulada pela proibição do mandamento, ela despertou todo tipo de cobiça. Empurrou o devoto para um beco sem saída. C. S. Keener destaca que “uma vida governada pela carne é uma vida dependente do esforço e recursos humanos finitos, uma vida egoísta, diferente de uma vida governada pelo Espírito de Deus”.
O apóstolo mostra agora que Deus na sua misericórdia e graça proveu libertação através de outra lei, essa superior e muito mais poderosa — a lei do Espírito de vida. Esse Espírito, evidentemente, é o Espírito Santo, enviado por Jesus para habitar dentro dos crentes. Agora o cristão não se rege mais por uma lei externa, mas por uma lei interior. O velho homem foi destronado pela cruz e em seu lugar o novo homem assumiu seu posto. “Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8.4). As exigências externas da lei agora podem ser cumpridas pelo cristão porque o Espírito de Cristo habita nele e dá-lhe condições de viver as exigências de Deus.
“Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito ” (8.5). A declaração de Paulo se estende até o versículo 12 e 13. Ele havia dito que o preceito da lei se cumpre nos cristãos que agora não estão mais na carne, mas no Espírito (v. 4). O sentido desse versículo, como os expositores têm observado, é muito amplo. Em princípio, Paulo está se referindo às duas esferas nas quais o cristão pode se mover — a esfera de Adão e a esfera de Cristo. Todavia, o apóstolo não nega aqui, como quer Keener, que essa luta envolva duas naturezas. O conflito é, portanto, entre o velho homem, criado em Adão, e o novo homem, criado em Cristo. Essa “inclinação da carne” empurra o homem para o pecado, enquanto a “inclinação do Espírito” para um viver vitorioso. “Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz” (v. 6).
“De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne’’ (8.12). Aqui o apóstolo parte do princípio de que o homem Adão é um homem devedor. Ele é devedor à carne, usa herança pecaminosa. Possuía uma conta a pagar e não tinha como. Todavia, o homem em Cristo agora é um homem livre. Ele não tem mais contas a pagar porque Jesus já pagou em seu lugar. Essa verdade é afirmada pelo apóstolo em outra carta que escreveu: “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz” (Cl 2.14). O contexto cultural desse versículo era de alguém que devia uma conta e que não podia pagar. O credor anotava então a dívida em um documento, juntamente como o nome do devedor, e pregava nos principais pontos da cidade. Todos que circulavam pela cidade ficavam sabendo daquela dívida. O devedor era exposto de forma vergonhosa e vexatória perante a opinião pública. Paulo afirma aqui que essa dívida, criada pelo pecado de Adão e por nossos pecados pessoais, agora é paga no momento em que nos entregamos ao senhorio de Jesus Cristo. Outro fato é que a palavra grega traduzida como “riscado” no texto original significa “apagado”. Jesus não apenas riscou a nossa dívida, de modo que alguém que fosse passando podia lê-la, mas ele apagou totalmente de forma que não ficou mais nenhum vestígio.
“porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis” (8.13). Vimos, pois, que a escolha de andar em uma das esferas é do cristão. Andar na carne (kata sarka) ou andar no Espírito (kata pneuma) é uma escolha que cada um deve fazer. Aqueles que escolhem andar no Espírito contam com a ajuda do Espírito para mortificar os feitos do corpo. A santificação é instrumentalizada pela ação do Espírito Santo. Essa verdade é destacada por Paulo em outras epístolas (Ef 4.22-24; G1 5.16,17; Cl 3.5).

Romanos 8.14-17
Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se e certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.
“Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus” (8.14). Aprecio muito o comentário que A. W. Tozer fez sobre a pessoa e obra do Espírito Santo. Tozer destaca que o Espírito Santo é, sobretudo, uma chama moral. Ele é a própria santidade, a soma e a essência de tudo o que é indescritivelmente puro. Tozer destaca que nenhuma alegria é válida, nenhum deleite é legítimo quando se permite que o pecado exista na vida ou na conduta. Acertadamente, ele diz que o ideal verdadeiro do cristão não é ser feliz, mas ser santo. Em segundo lugar, o Espírito é uma chama espiritual. Aqui Tozer destaca que o Espírito nos conduz a uma adoração verdadeira. O Espírito é também uma chama intelectual. O Espírito usa nosso intelecto para o serviço de Deus de forma que não há incompatibilidade alguma entre a mente e o Espírito. O Espírito é descrito como sendo chama volitiva. Ele opera na nossa vontade. Todavia, como destaca Tozer, é necessário que haja algum tipo de entrega total da vontade a Cristo antes que qualquer obra da graça possa ser realizada. Por último, Tozer observa que o Espírito que habita em nós produz uma chama emotiva. Somos razão e emoção. Tozer completa: “Um dos maiores flagelos que o pecado trouxe sobre nós é a depravação de nossas emoções normais. Rimos de coisas que não são divertidas, encontramos prazer em atos que estão abaixo da dignidade humana e nos alegramos em coisas que não deveriam ter lugar em nossas emoções”.
O apóstolo destacou que o Espírito guia o cristão. “Guiar” traduz o verbo grego ago, que tem o sentido de “conduzir”, “orientar”. O tempo presente, modo indicativo e voz passiva usados aqui mantêm o sentido no original de “aquele se que deixa guiar continuamente pelo Espírito”. O Espírito, portanto, conduz o cristão. Ele nos guia pela Palavra de Deus (Ef 6.17; Mt 4.4); Ele nos guia pelo testemunho interior (Rm 8.16); Ele nos guia pelo bom-senso (1 Ts 4.9); Ele nos guia por sábios conselhos (At 21.17-26); Ele nos guia pelos dons espirituais (At 21.10,11); Ele nos guia por sonhos (At 2.17); Ele nos guia por visões (At 16.9; 18.9,10).

Romanos 8.18-30
Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. Porque, em esperança, somos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê, como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos. E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito, e é ele que segundo Deus intercede pelos santos. E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.

Synantilambanetai — o Espírito do outro Lado
“Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (8.18). Essa seção que começa em 8.18 de Romanos e termina em 8.30, uma das mais belas e apreciadas dessa carta, é uma referência à demonstração do grande amor de Deus pelos seus filhos. Os comentaristas chamam de seção dos três gemidos. O gemido da criação; o gemido do cristão; e o gemido do Espírito. A criação geme por conta do desequilíbrio que o pecado trouxe; o cristão geme por habitar em um corpo corruptível; e o Espírito geme por conta das limitações as quais o crente está subordinado. A propósito, o gramático de grego bíblico Roberto Hanna comenta que em Romanos 8.26,27 “o verbo composto sinantilambanetai o significado é obvio. O Espírito Santo agarra nossas debilidades juntamente conosco (syri) e leva sua parte da carga na nossa frente (anti), como se dois homens estivessem levando um tronco, um em cada extremo”.
“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (8.28). A. T. Robertson destaca que é Deus quem faz com que “todas as coisas cooperem” em nossas vidas para o bem, o bem último. Robertson destaca ainda que “Paulo aceita completamente a livre agência do homem, mas por trás de tudo e através de tudo subjaz a soberania de Deus aqui e em sua face de graça (9.11; 3.11, 2 Tm 1.9)”.

A Liberdade dos Eleitos
“Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (8.29). A maioria dos autores comentando Romanos 8.29,30 usa os termos predestinação e eleição de forma intercambiável. Dessa forma, o prolífico escritor Hernandes Dias Lopes usa a expressão “eleição incondicional”, situando-a dentro do contexto de Romanos 8.30. Todavia, a palavra “eleição”, que traduz o grego eklogé, só aparecerá de fato pela primeira vez em Romanos 9.11. Lopes diz in loco que “a eleição é incondicional”. O que Lopes quis dizer não ficou claro. Todavia, se entendermos “incondicional” como um termo cunhado pela tradição determinista, então ele significa que Deus elegeu alguns incondicionalmente para a vida eterna enquanto destinou outros incondicionalmente para o tormento eterno. Mas isso seria um uso indevido do termo grego, já que em Romanos 9.11 (cap. 11.5,7,28 onde aparece o mesmo termo) essa incondicionalidade é usada em relação a povos, e não a indivíduos. Por outro lado, em Romanos 8.29,30 aparece o termo “predestinação” (gr. Proorizõ), que a exemplo de eklogé também possui um sentido corporativo e condicionante. O expositor bíblico Joseph A. Fitzmyer, quando comenta Romanos 8.29,30, diz: “Esta expressão não deve ficar restrita somente aos cristãos predestinados. A aplicação dela à predestinação individual vem de Agostinho. A concepção de Paulo é, antes, coletiva, e a expressão é um complemento a ‘daqueles que o amam’, i.e., os cristãos que responderam a um chamado divino (cf. Rm 1.6; 1 Co 1.2)”. Em outras palavras, a eleição é em Cristo e está condicionada à resposta que as pessoas dão ao seu chamado. Mesmo em contextos onde a predestinação está em evidência, A. T. Robertson destaca o papel exercido pela livre-escolha. Comentando Atos 13.48, Robertson diz que “não há evidência de que Lucas tivesse em mente umabsolutum decretum (Decreto Absoluto) de salvação pessoal. Paulo havia mostrado que o plano de Deus se estendia a/e incluía os gentios. Certamente o Espírito de Deus se move sobre o coração humano, ação a que alguns respondem, como aqui, enquanto outros a rejeitam”.
O historiador da igreja, Roger Olson, faz uma ilustração da salvação no contexto da eleição divina, conforme defendida pelos pelagianos, calvinistas e arminianos. Olson nos convida a imaginar um poço fundo com lados íngremes e escorregadios. Dentro desse poço encontram-se várias pessoas fracas e feridas, completamente incapacitadas de sair de dentro do poço.
1. Semipelagianismo — afirma que Deus se aproxima e que joga uma corda para o fundo do poço e espera que a pessoa comece a puxar a corda. Quando a pessoa assim o faz, Deus responde gritando: “Segure bem firme na corda e a amarre em seu corpo. Juntos, nós o tiraremos daí”. Olson destaca que o problema aqui é que a pessoa está demasiadamente machucada para fazer isso, a corda é fraca demais e Deus é bom demais para esperar que a pessoa inicie o processo.
2. Monergismo — afirma que Deus se aproxima, lança a corda para dentro do poço e que desce até o fundo do poço, enrola a corda em algumas pessoas e então sai do poço e puxa aquelas pessoas para a segurança sem nenhuma cooperação. Olson destaca que o problema aqui é que o Deus de Jesus Cristo é bom e amável demais para resgatar apenas algumas pessoas impotentes e deixar outras lá.
3. Sinergismo evangélico — afirma que Deus se aproxima, lança uma corda e grita: “Segurem na corda e puxem e juntos nós iremos tirar vocês daí”. Ninguém se mexe. Eles estão severamente feridos. Na verdade, para todos os propósitos práticos, eles estão “mortos”, pois estão completamente incapazes. Então Deus derrama água no poço e grita: “Relaxem e deixem que a água os faça boiar até que saiam do poço!” Em outras palavras, “Boiem”. Tudo o que a pessoa no poço precisa fazer para ser resgatada é deixar que a água o faça subir e sair do poço. A ação exige uma decisão, mas não um esforço. A água, é claro, é a graça preveniente.
Muito embora Olson reconheça a imperfeição dessa ilustração, ela parece se ajustar melhor ao contexto bíblico da eleição e da predestinação. Comentando Romanos 8.30, na sua exaustiva obra de 801 páginas, a qual defende a eleição condicional do crente, o expositor bíblico Daniel D. Corner observa que a afirmação de que a eleição é incondicional “ignora os exemplos reais encontrados na Escritura daqueles que uma vez foram verdadeiramente justificados, em seguida, depois se afastaram de Deus (Lc 8.13; 1 Tm 1.19; 2 Tm 2.18;C11.22,23)”. Voltaremos a esse assunto quando no capítulo 8 comentarmos a seção de Romanos 9—11.
O teólogo pentecostal Van Johnson destaca que “o ponto principal destes versículos é dar a segurança do futuro eterno do crente com base na soberania de Deus. O que ele propôs ocorrerá. Para esse fim, Paulo apresenta a ideia que desde o começo era plano de Deus salvar os homens. Para que não haja o pensamento de que circunstâncias na terra frustrem o plano de Deus, o apóstolo mostra que Deus terminou este curso de ação antes que tivéssemos a oportunidade de responder”. Johnson destaca que a “necessidade da resposta humana é dada no versículo 28 — “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus”.

Romanos 8.31-39
Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes, o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? E Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de d somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!

Quem Será Contra Nós?
"Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (8.31). Essa seção é o fechamento de tudo aquilo que o apóstolo falara até agora. A obra The Pulpit Commentary, um dos melhores comentários de natureza homilética já publicado, traz um esboço sobre essa porção das Escrituras. Dividido em três pontos, temos primeiramente O Solilóquio do Crente. Aqui o apóstolo, como se estivesse dialogando com sua própria alma, faz uma retrospectiva de toda a sua argumentação anterior. Do capítulo 1 ao 5, Deus é por nós. Ele nos justificou pela fé. Do capitulo 6 ao 8, Deus está em nós. Aqui acontece a santificação por intermédio do Espírito de Cristo. Em segundo lugar, temos o Desafio do Crente. Aqui ele tem a base para defender o seu direito à salvação, como resultado da justificação pela fé. A justificação é um ato de Deus. A base dessa justificação é a morte de Cristo e a garantia dessa justificação é a ressurreição de Jesus. Isso garante ao cristão vitória sobre seus inimigos. Por último, o crente está persuadido naquilo em que creu. Nada é capaz de demovê-lo dessa convicção. A morte não pode; as coisas desta vida também não; anjos, principados, potestades não podem separá-lo desse poder supremo. As coisas do presente, que apelam para os sentidos, também se revelam incapazes de demovê-lo desse projeto divino. E o que dizer das coisas futuras ou alguma outra criatura? Também não podem separá-lo do amor de Deus que está em Cristo Jesus.
A Ele toda honra e toda glória. Amém!


Autor: José Goncalves

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