Romanos 12.1,2
Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
As Dimensões da Adoração Cristã
“Rogo-vos,pois, irmãos..." (12.1). O apóstolo começa o capítulo 12 de Romanos com um pedido. A palavra “rogar” traduz o termo grego parakalô, formado pela preposição grega “para” (ao lado, ao lado de) e “kaleo” (chamar). No grego clássico, essa palavra possuía uso militar e era usada quando um comandante exortava suas tropas. Aqui o apóstolo chama os irmãos para perto dele, para ficarem ao lado dele a fim de que possam receber as exortações que lhes dará em seguida.
"... pela compaixão de Deus... ” (12.1). A palavra traduzida aqui como “misericórdia” traduz o gregooiktimos. Ocorre cinco vezes no Novo Testamento grego, sendo que quatro vezes é de uso paulino. O adjetivo oiktimon, derivado dessa palavra, é traduzido em Lucas 6.36 como “vosso Pai é misericordioso”. Paulo, portanto, faz um rogo aos seus irmãos romanos, mas o faz fundamentado na misericórdia de Deus. Essa misericórdia divina está permeada na sua carta desde o primeiro capítulo até aqui. Foi essa misericórdia que acolheu a todos eles quando ainda eram pecadores.
"... que apresenteis... ” (12.1). Para deixar os crentes em prontidão, Paulo usou uma palavra de cunho militar para exortá-los. Agora, para convocá-los à adoração, ele usa um termo extraído do ritual do culto levítico. Dentre os muitos sentidos assumidos por esse vocábulo no grego antigo, o lexicógrafo Walter Bauer destaca seu sentido figurado na linguagem do sacrifício como oferta. O expositor bíblico Fritz Rienecker destaca também que “apresentar” (gr. paristemi) possui um sentido técnico para a apresentação de um sacrifício, significando literalmente “colocar de lado” para qualquer propósito.
"... o vosso corpo em sacrifício vivo...” (12.1). Não há dúvida que Paulo tinha em mente o sistema de sacrifício levítico quando escreveu essas recomendações. Assim como um animal inocente era ofertado em sacrifício na antiga aliança, da mesma forma o cristão devia apresentar o seu corpo a Deus. A diferença era que lá a oferta era apresentada morta e aqui a oferta é apresentada viva. Ao contrário do pensamento grego, que via o corpo como a prisão da alma, Paulo dá grande importância à nossa dimensão corpórea. Devemos evitar o dualismo psicofísico introduzido na cultura ocidental pelo filósofo René Descartes. Na concepção desse pensador francês, o homem é formado por uma parte pensante e outra física. Isso não deixa de ser uma verdade, mas da forma como é entendida no racionalismo cartesiano, fatia o homem em partes distintas e separadas uma da outra. A consequência é a criação de um dualismo corpo-alma onde se privilegia a parte racional humana em detrimento do seu lado subjetivo. No contexto bíblico, o homem é um ser integral, formado por espírito, alma e corpo (1 Ts 5.23; 1 Co 14.14).
“... santo e agradável a Deus” (12.1). O sacrifício deve ser apresentado vivo, mas também de forma santa e agradável. No contexto neotestamentário, a palavra “santo” quer dizer “separado”. É um termo muito comum na Septuaginta grega quando se refere ao Tabernáculo e aos seus utensílios usados no culto. Aquele que quer servir a Deus deve ser separado para o seu serviço. Precisa, portanto, se conscientizar de que há limites que devem ser respeitados. Não há dúvidas de que a falta de vitalidade no cristianismo hodierno se dá em consequência dessa frouxidão moral, consequência de um conceito equivocado da doutrina da santificação. Quando o sacrifício é apresentado vivo e de forma santa, então ele se torna agradável a Deus. O comentarista americano Robert Gundry destaca que o sacrifício deve ser primeiramente “... vivo (no sentido de ‘para’) Deus” (compare 6,13); em segundo lugar, “consagrado para Deus em vez de ser dominado pelo pecado” (como os pagãos que desonravam seus corpos através das concupiscências, como mostra Rm 1.24); e, portanto, agradável a Deus” (comparando com a descrição da queima de sacrifícios de animais como oferta de “um cheiro agradável ao Senhor” (Lv 1.9,13,17). Só que em Romanos os sacrifícios estão vivos. Assim, “o serviço do culto é agradável” abrangendo a totalidade da conduta corporal em vez de se limitar as cerimônias ocasionais ou até mesmo regulares, como na oferta de sacrifícios de animais sob a lei mosaica.
"... que é o vosso culto racional” (12.1). Robert Gundry observa que aqui Paulo contrasta a adoração pagã com a adoração cristã. Naquela o culto era irracional, adorando a criatura em lugar do Criador. Por outro lado, no culto cristão, que acontece de forma racional, o Criador, e não a criatura, se torna o cento da adoração. Essa recomendação apostólica está em sintonia com aquilo que ele escreveu aos crentes de Corinto, recomendando-os que fizessem tudo com “decência e ordem” (1 Co 14.40). Um culto cristão que não tem hora para começar nem tampouco para terminar; que é desprovido de liturgia; em que a pessoa não consegue desligar o celular; que promove o exibicionismo humano; que é motivado por gordos cachês, etc.; não é uma adoração racional, muito menos cristã.
“E não vos conformeis com este mundo...” (12.2). Aqui o apóstolo usa o imperativo presente com a negativa “não” para alertar os cristãos sobre qual postura devem assumir neste mundo. O termoschematizesthai, traduzido aqui como “conformar”, tem o sentido de “moldar”. E o mesmo verbo usado pelo apóstolo Pedro quando escreveu aos cristãos: “Como filhos obedientes, não vosconformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância” (1 Pe 1.14). Assim como o líquido assume a forma do recipiente que ocupa, da mesma forma o crente, se não se guiar pela Palavra de Deus, pode ser moldado de acordo com a cultura à sua volta. Para que isso não aconteça, é preciso interromper uma ação que pode estar em curso, como sugere o tempo presente do texto grego desse versículo. O expositor suíço Frédéric Louis Godet comenta que o “termo esquema denota a maneira de se comportar, atitude, pose; eschematizesthai, verbo derivado dele, significa a adoção ou imitação dessa pose ou modo recebido de conduta. O termo (este) mundo presente é usado nos rabinos para denotar todo o estado de coisas que antecede a época do Messias; no Novo Testamento, ele descreve o curso da vida seguido por aqueles que ainda não tenham sido submetidos à renovação que Cristo opera na vida humana. E esse modo de viver anterior à regeneração que o crente não deve imitar no uso que faz do seu corpo. E o que ele tem que fazer? Buscar um novo modelo, um tipo superior, a ser realizado por meio de um poder que atua dentro dele. Ele deve ser transformado literalmente, metamorfoseado”.
“.. mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento” (12.2). Paulo havia mostrado no capítulo 7, principalmente na última seção do capítulo, sobre o conflito interior que o cristão enfrenta. Ele disse que querer fazer o que era bom estava nele, mas não o efetuar. Há uma natureza adâmica que guerreia contra a nova vida. Essa natureza é estimulada pela cultura mundana que também está afastada de Deus. O crente, portanto, vive em um mundo que lhe é hostil. Seus inimigos são o Diabo, a carne e o mundo. O que fazer então para não se deixar subjugar diante dessa cultura caída? Buscando diariamente a transformação de sua mente. A palavra “transformar” traduz o grego metamorphoô, que é um termo usado para descrever a transformação da lagarta em borboleta. A mente do cristão não é passiva nem tampouco neutra; ela precisa de renovação. Paulo aconselha os crentes de Filipos ao exercício das virtudes espirituais como uma forma de renovação da mente (Fp 4.8). Quando o crente não renova a sua mente, nunca vai se assemelhar a uma linda borboleta, mas a uma lagarta feia.
“...para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (12.2). Uma mente transformada e renovada está pronta para a adoração verdadeira. Não há dúvida de que a pobreza de nossa adoração é um reflexo das mentes velhas que participam do culto. Somente uma mente renovada experimenta a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12.3-8
Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação, assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria.
Os Dons da Graça
“Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (12.3). Os intérpretes chamam a atenção para a mistura cultural presente na igreja de Roma — formada por judeus e gentios. Todavia, na igreja, o corpo místico de Cristo, os cristãos não se encontram separados pela etnia. Eles formam uma unidade na diversidade. Ninguém deve olhar para o outro demonstrando superioridade, quer por status social, quer por tradição religiosa.
“Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação” (12.4). Essa unidade é vista claramente na analogia do corpo humano, uma das preferidas pelo apóstolo (1 Co 12). O corpo humano, formado por diversos órgãos e membros, constitui-se uma unidade. Cada membro tem sua função, uns são mais utilizados no dia a dia, todavia não se sobressaem em valor em relação aos demais. Assim também é na igreja de Cristo. Se o corpo fosse formado por um só membro, então ele não seria de fato corpo, mas uma anomalia. Todos os cristãos romanos, quer judeus quer gentios, possuíam funções diferentes dentro do propósito de Deus.
“De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se é profecia, seja ela segundo a medida da fé” (12.6). Paulo destaca a diversidade dos dons, algo parecido com o que ele escreveu em 1 Coríntios 12, mostrando que eles são fruto da graça, e não mérito humano. Como escrevia para uma igreja forjada pelo fogo de Pentecostes (At 2.10), os dons não lhe eram estranhos. O apóstolo não viu necessidade de dar maiores explicações sobre o uso dos mesmos como fizera na igreja de Corinto. Aqui ele destaca primeiramente o dom da profecia. No Novo Testamento, há uma diferença entre a profecia como um dom espiritual, exercitado por qualquer crente (1 Co 14.12), e o ofício profético, reservado a alguns a quem Deus escolheu (Ef 4.11). Nesse aspecto, nem sempre quem profetiza é um profeta, enquanto todo profeta, evidentemente, profetiza. Isso pode ser ilustrado com as figuras de Agabo, um profeta que aparece no livro de Atos, e as filhas de Filipe, que mesmo não possuindo o oficio de profeta, no entanto, profetizavam. Foi ao profeta Agabo, e não às filhas de Filipe, que o Espírito Santo usou para falar com Paulo (At 11.28; 21.8-11).O conceituado teólogo Wayne Grudem escreveu em 1988 um livro sobre o dom da profecia no Novo Testamento, ao qual intitulou de O Dom da Profecia. A tese de Grudem é que a profecia no Novo Testamento não está no mesmo patamar daquela dos profetas do Antigo Testamento. Ele argumenta que essas profecias “eram simplesmente um relatório bastante humano — e, às vezes, parcialmente equivocado — do que o Espírito Santo trazia à mente de uma pessoa em especial”. Para fundamentar sua tese, Grudem cita o caso de Ágabo, profeta do Novo Testamento. Primeiramente, ao fazer uma análise de Atos 21.10,11, Grudem acusa Ágabo de tentar falar como os profetas do Antigo Testamento: “a frase introdutória de Ágabo — “Assim diz o Senhor” — sugere uma tentativa de falar como os profetas do AT que diziam: “Assim diz o Senhor...”. Grudem vai mais longe em seu argumento e tenta agora provar que Ágabo mentiu e que, se vivesse nos dias do Antigo Testamento, seria apedrejado como falso profeta. “Pelo padrão do AT”, diz ele, “Ágabo teria sido condenado como falso profeta, porque em Atos 21.27-35 nenhuma de suas previsões é cumprida”. De acordo com Grudem, o primeiro erro de Ágabo teria sido a sua previsão errada de quem “amarraria” a Paulo. Ágabo dissera que seriam os judeus, quando na verdade foram os romanos. O segundo erro de Ágabo, na análise de Grudem, foi ter se enganado quanto ao fato de ter predito que os judeus “entregariam” Paulo nas mãos dos gentios quando na verdade as autoridades romanas (gentios) o teriam tomado à força das mãos dos judeus.
Pois bem, eu lamento que Wayne Grudem, na sua análise, chegue a essa conclusão totalmente divorciada do texto bíblico. A sua exegese simplesmente não se sustenta dentro do contexto da teologia lucana registrada em Atos. Em primeiro lugar, se Ágabo, de fato, tivesse errado ou mentido como sugeriu Grudem, Lucas — que escreveu o livro de Atos e acompanhou Paulo a partir de Atos 16.10 — teria sido o primeiro a dizer isso. Pelo contrário, não há nada na teologia lucana que sugira isso. A teologia carismática de Lucas, como demonstrou Roger Stronstad, mostra que Ágabo está dentro daquilo que foi profetizado na era messiânica — a restauração do Espírito profético na era da igreja. Lucas mostra Ágabo, dentro da nova era messiânica, como um verdadeiro profeta do Senhor. A acusação de que Ágabose confundiu e errou ao trocar “judeus” por “romanos”, simplesmente não se sustenta. O profeta previu a causa do aprisionamento de Paulo, o que está claramente mostrado em Atos 21.27-30, que ele foi motivado pelos judeus. “Quando os sete dias estavam quase a terminar, os judeus da Ásia, vendo-o no templo, alvoroçaram todo o povo e lançaram mão dele” (At 21.27). Os judeus foram a causa do aprisionamento de Paulo, e o Espírito profético que estava sobre Ágabo viu com antecipação esse fato. Se um juiz manda prender um marginal e o policial cumpre a ordem, ninguém vai dizer que o policial prendeu o bandido, mas que o juiz fez isso. O juiz foi a causa da prisão. Da mesma forma, quem causou o aprisionamento de Paulo foram os judeus, e não os gentios. Grudem, que se apega a minúcias do texto grego, quando tenta desacreditar o profeta Ágabo, deveria ter percebido que o termo grego “agarraram” (gr. epiballô) usado em Atos 21.27,30, tem o sentido de “capturar”, “lançar as mãos sobre”, e é usado em relação aos judeus, e não aos romanos.
O segundo suposto erro de Ágabo, na análise de Grudem, está nos detalhes do cumprimento da profecia. Em vez de Paulo ter sido “entregue”, na verdade ele teria sido “tomado” à força pelos gentios. Isso é confundir seis com meia dúzia. Grudem aqui gasta muita tinta fazendo cruzamento de referências para mostrar que, levando-se em conta esses detalhes, Ágabo errou redondamente. Um exemplo da profecia do Antigo Testamento resolve essa questão dos detalhes que acompanham aquilo que o cronista registra em pronunciamento profético. A profecia possui uma essência, uma mensagem principal, sendo que os detalhes não a contradizem. Vejamos o livro de 2 Reis 9.1-10. Nesse texto, o profeta Eliseu chama um dos filhos dos profetas e manda-o entregar uma profecia a Jeú, comandante das forças de Israel. Eliseu deu instruções detalhadas ao seu discípulo dizendo que deveria levar um vaso de azeite e, lá chegando, profetizar: “Assim diz o Senhor: Ungi-te rei sobre Israel. Então, abre a porta, e foge, e não te detenhas” (2 Rs 9.3). Era só isso que o profeta mandou dizer. Mas veja os detalhes que são acrescentados na entrega da profecia nos versículos 6 a 10: “Então, se levantou, e entrou na casa, e derramou o azeite sobre a sua cabeça, e lhe disse: Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Ungi-te rei sobre o povo do Senhor, sobre Israel. E ferirás a casa de Acabe, teu senhor, para que eu vingue o sangue de meus servos, os profetas, e o sangue de todos os servos do Senhor da mão de Jezabel. E toda a casa de Acabe perecerá; e destruirei de Acabe todo varão, tanto o encerrado como o livre em Israel. Porque à casa de Acabe hei de fazer como à casa de Jeroboão, filho de Nebate, e como à casa de Baasa, filho de Aías. E os cães comerão a Jezabel no pedaço de campo de Jezreel; não haverá quem a enterre. Então abriu a porta e fugiu” (2 Rs 9.6-10).
Se Paulo foi “entregue” ou “tomado à força” em nada muda a essência da profecia de Agabo da mesma forma que os detalhes da profecia do discípulo dos profetas em nada destoou da profecia original que lhe foi entregue por Eliseu. A essência da profecia era clara (Paulo será preso), como era clara a profecia de Eliseu (Deus ungiu a Jeú rei). Ambas se cumpriram na íntegra!
Os Melhores Dons
Cabe ainda observar sobre os dons no contexto paulino que os melhores dons eram aqueles que maior edificação trazem à igreja. Visto que a profecia, uma fala inspirada pelo Espírito Santo, alcançava o maior número de pessoas, Paulo a via como o mais útil. O critério a ser adotado, portanto, no uso dos dons espirituais é a edificação.
“Se é ministério, seja em ministrar...” (12.7). A palavra “ministério” é a tradução do gregodiakonia, e aqui significa “serviço”. Paulo escrevia para uma igreja jovem, formada por leigos, portanto, esse termo não possuía a conotação de “ministro” que lhe é atribuída hoje. Todavia, o “ministro” como uma função, e não como um ofício, pode ser visto aqui da mesma forma que Paulo se refere à função dos que “ensinam”, isto é, os mestres, nesse mesmo versículo. Devemos, no entanto, observar que o clericalismo rígido como o conhecemos hoje só aparece no segundo século da igreja cristã. Isso não quer dizer que a organização ou instituição não são importantes. São, mas não podem se sobressair à igreja. A instituição está contida na igreja, e não o contrário.
“... se é ensinar, haja dedicação ao ensino” (12.7). Paulo passa então a se dirigir aos mestres (gr.didaskalos). Os mestres estão listados como um dos dons quíntuplos do ministério, ao lado de apóstolos, profetas, evangelistas e pastores (Ef 4.11). Eles são importantes porque através da instrução ajudam na formação espiritual da igreja. Lucas os cita em Atos 13.1, quando a igreja enviou pela primeira vez os seus missionários. Uma igreja sem instrução não cresce, apenas incha. É por isso que os mestres precisam ser diligentes e esmerar-se no exercício de seus ofícios. Outros dons listados por Paulo são os de exortar, contribuir, presidir e exercer misericórdia (v. 8).
Romanos 12.9-21
O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor; alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade; abençoai aos que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram. Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos. A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas perante todos os homens. Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens. Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.
Fervendo no Espírito
Esta seção que se estende do versículo 9 ao 21 de Romanos 12 reúne diversos conselhos de Paulo. Vou relacioná-los aqui;
• Evitar o fingimento (12.9) — os relacionamentos precisam ser autênticos. Não podemos expressar a koinonia cristã com um coração hipócrita.
• Evitar flertar com o mal (12.9) — o conselho de Paulo é que os crentes devem detestar o mal. No original, a ideia é a de repulsa pelo mal.
• Evitar a primazia (12.10) — esse problema será resolvido quando o outro, e não nós, ocupar o primeiro lutar. O egoísmo é uma das principais e piores formas de pecado.
• Evitar a frieza espiritual (12.11) — a ideia do texto no original é que os crentes devem “ferver no Espírito Santo”. Fervor não é sinônimo de fanatismo nem tampouco de barulho. Fervor significa o cristão ter um coração incendiado pelo Espírito Santo.
• Saber esperar (12.12) — a esperança do cristão é fundamentada na justificação pela fé. Ela se alicerça nas promessas de Deus. Paulo falou da esperança cristã em Romanos 5.
Saber ser resignado (12.12) — não é fácil ser paciente no sofrimento. Todavia, as tribulações no evangelho de Paulo fazem parte do crescimento na fé.
Saber orar (12.12) — só vence na oração quem sabe esperar. Perseverar na oração é um dos mais repetidos mandamentos bíblicos. Precisamos ser perseverantes na oração.
Aprender a compartilhar (12.13) — Paulo sempre demonstrou preocupação com a vida social da igreja. Sempre procurou ajudar os mais necessitados. Resgatou um mandamento de Jesus que havia sido esquecido, o qual nem mesmo os Evangelhos registraram: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.35).
Aprender a acolher (MAS) — ser hospitaleiro é uma virtude que o cristão nascido de novo precisa exercitar. Quem é hospitaleiro sabe dividir com o outro parte de sua vida. E um excelente antídoto contra o veneno do egoísmo.
Aprender a abençoar (12.14) — amaldiçoar é mais fácil do que abençoar. Mas Paulo exorta os crentes a abençoar seus inimigos. Acredito que o sentimento de vingança é a causa da prisão espiritual de muitos cristãos.
Aprender a se identificar com o próximo (12.15) — devemos estar nas festas bem como nos velórios. E fácil se alegrar com quem está alegre, mas não é fácil chorar com quem chora. Para viver a vida cristã plena, uma coisa não pode ser feita sem a outra.
Aprender a se humilhar (12.16) — estar em evidência é uma tentação que assedia todo cristão. Ninguém quer ficar por baixo, mas sempre no topo. A tentação de estar na vitrine o tempo todo é uma das armas mais letais do Diabo.
Aprender a perdoar (12.17-20) — uma das razões que a Bíblia dá para Deus ter se agradado da oração de Salomão foi que ele não desejou a morte de seus inimigos (1 Rs 3.11). Se quisermos orar com eficácia, devemos esvaziar o coração de todo sentimento de vingança.
Aprender a lutar (12.21) — vencer o mal com o bem é uma arma eficaz no combate cristão.
Autor: José Gonçalves
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