sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

LIÇÃO Nº 3 – O PERIGO DAS OBRAS DA CARNE

ESTUDO PREPARATÓRIO PARA OS PROFESSORES DA ESCOLA DOMINICAL 
PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2017 TEMA 
 As obras da carne e o fruto do Espírito 
Como o crente pode vencer a verdadeira batalha espiritual travada diariamente. 
COMENTARISTA: Osiel Gomes da Silva



LIÇÃO Nº 3 – O PERIGO DAS OBRAS DA CARNE 
Praticar as obras da carne é demonstrar que se está dominado pelo pecado. 

INTRODUÇÃO 
- As obras da carne são praticas por quem está dominado pelo pecado. 
- A prática do pecado leva-nos à perdição eterna. 
I – O HOMEM CARNAL 
- Na sequência do estudo sobre as obras da carne e o fruto do Espírito Santo, estudaremos hoje as obras da carne, no segundo bloco deste trimestre, que é composto de apenas uma lição. 

- Já vimos, nas duas lições anteriores, que o homem, ao desobedecer ao Senhor e pecar, tornou-se escravo do pecado, pois quem pratica o pecado é escravo do pecado (Gn.4:7; Jo.8:34). 

- Há alguns anos atrás, assistimos a uma encenação a respeito desta circunstância. Nesta encenação, havia uma pequena cadeira, onde estava escrita a palavra “pecado”. Surgia, então, uma pessoa que era, então, tentada a se aproximar daquela cadeira e a toma-la. Quando cedia a esta tentação e punha a mão na cadeira, sua mão ficava “grudada” na cadeira, não mais conseguindo dela se desvencilhar. Temos aqui uma grande verdade espiritual, já dita pelo Senhor a Caim e repetida pelo Senhor Jesus Cristo: quem pratica o pecado torna-se escravo do pecado, passa a ser dominado pelo pecado, não tendo condições de dele se desvencilhar. 

- A prática do pecado gera, de imediato, uma separação entre o homem e Deus (Is.59:2). Tanto assim é que o primeiro casal, ao notar a aproximação do Senhor naquele fatídico dia, procurou se esconder de Deus, pois não havia mais comunhão entre eles e o Senhor. Surgiu o medo, o receio, o pavor diante da presença divina, porque havia desaparecido o amor, pois só há medo quando não há amor (I Jo.4:18). 

- Este homem, perdendo a comunhão com Deus, fica à mercê do maligno, sendo facilmente por ele vencido, pois, ao contrário do que afirmou Satanás à mulher, o homem, ao deixar a comunhão com o Senhor, não se torna igual a Deus, sabendo o bem e o mal, mas, sim, se transforma num escravo de seus próprios instintos, um verdadeiro “marionete” nas mãos do inimigo, porque seu desejo passa a ser dominado pelo mal, não tendo como resistir-lhe. 

- A triste situação do homem sem Deus é descrita pelo apóstolo Paulo no capítulo 7 da epístola aos romanos, onde este trágico quadro é, por inspiração do Espírito Santo, pormenorizadamente demonstrado. 

- O homem sem Deus é chamado de “homem que está na carne”, um homem cujos membros servem-se de instrumentos das “paixões dos pecados”, que dão “fruto para a morte” (Rm.7:5). É um homem que não agrada a Deus, nem pode fazê-lo (Rm.8:8), porque a prática do pecado é uma demonstração de inimizade contra o Senhor (Rm.8:7). Não foi por outro motivo que, ao prometer a redenção da humanidade por intermédio da “semente da mulher”, o Senhor fala no restabelecimento da amizade entre Deus e o homem, a atestar, portanto, que se estava num estado de inimizade causado pela prática do pecado pelo primeiro casal (Gn.3:15). 

- O homem carnal é, portanto, um ser que, sob o domínio do pecado, somente pratica atos que são contrários à vontade de Deus, que o mantêm separados do Senhor, em oposição ao seu Criador, em permanente transgressão aos mandamentos divinos, gerando um estado de separação, que é denominado de “morte”, pois, nas Escrituras, “morte” é “separação” e uma separação que, se mantida, tornar-se-á irreversível quando da passagem do homem para a dimensão da eternidade, quando, então, esta morte se converterá numa “morte eterna”, na “segunda morte” (Ap.20:14). 

- Esta situação espiritual tão terrível e triste foi transmitida por Adão a seus descendentes. Em Gn.5:3, é dito que Adão gerou um filho segundo a sua imagem e a sua semelhança, ou seja, um filho que tinha a “natureza adâmica”, esta natureza pervertida gerada após o pecado, esta natureza carnal, esta natureza pecaminosa. Por isso mesmo, esta natureza é denominada de “velho homem”, este homem que possui “o corpo do pecado” (Rm.6:6), que se corrompe pelas concupiscências do engano (Ef.4:22), que, morto em suas ofensas e pecados, anda segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência, nos desejos da carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos, sendo, por natureza, filhos da ira (Ef.2:1-3). 

- Possuir “o corpo do pecado” não é ter um corpo material, como entendiam equivocadamente os gnósticos, que achavam que a “matéria era má”, pensamento que ainda hoje vemos entre alguns que cristãos se dizem ser, que acham que o fato de termos um “corpo físico” é a razão de todo o mal. Deus criou o homem do pó da terra (Gn.2:7), e, portanto, trata-se de algo bom (Gn.1:31). 

O “corpo do pecado” outra coisa não é senão a natureza rebelde contra Deus, esta “imagem e semelhança do Adão decaído”, que exsurge no instante mesmo em que o primeiro casal peca, separa-se de Deus. É todo o conjunto de elementos que leva o homem ao pecado e ao maligno, é a ausência de Deus no homem que o leva a ser escravizado pelo maligno. Como ensina Jacó Armínio, temos aqui o “corpo de morte” mencionado em Rm.7:24, “in verbis”: “…’Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?’ Isto é, não deste corpo mortal, mas do domínio do pecado, que aqui ele chama de corpo de morte, como o chama, em outras passagens, de corpo do pecado…” (Uma dissertação sobre o sentido verdadeiro e genuíno e o sétimo capítulo da Epístola aos Romanos. In: As obras de Armínio. Trad. de Degmar Ribas Júnior, v.2, p.215).

- O homem carnal corrompe-se pelas concupiscências do pecado. Escravizado pelo pecado, o homem peca continuadamente, distancia-se cada vez mais de Deus, numa sequência que o degenera mais e mais, como o apóstolo Paulo nos mostra em Rm.1:21- 32, numa descida espiritual que torna o homem cada vez mais aviltado e indigno. A rejeição a Deus leva ao desvanecimento dos discursos, ao obscurecimento do coração, à loucura, à idolatria, à entrega das concupiscências dos corações, à imundícia, à desonra dos corpos entre si, ao abandono de Deus que leva o homem às paixões infames, a um sentimento perverso para fazer coisas que não convêm, tornando a convivência social altamente prejudicial e danosa. Miqueias bem diz ao afirmar que a corrupção destrói grandemente o ser humano (Mq.2:10). 

- O homem carnal tem um caráter débil. O caráter, conforme vimos na lição anterior, é composto de três elementos: o autodirecionamento, a cooperatividade e a autotranscendência. O homem carnal, dominado pelo pecado, não tem autodirecionamento, pois, “anda segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência”. O homem carnal não consegue fazer prevalecer a sua vontade, pelo contrário, consegue apenas fazer a vontade do pecado, do maligno. 

- O apóstolo Paulo diz-nos que o homem carnal está “vendido sob o pecado” (Rm.7:14), ou seja, é alguém que não tem vontade própria, que apenas faz aquilo que lhe manda o seu “senhor”, que é o pecado. É alguém oprimido pelo maligno e que não pode fazer valer a sua vontade, tanto que é alguém que faz o que não aprova, pois o que quer isso faz, mas o que aborrece isso faz (Rm.7:15). 

- Mas, além de não ter autodirecionamento, o homem carnal também não tem cooperatividade, pois é egoísta, amante de si mesmo (II Tm.3:2), incapaz de levar em conta o próximo em suas atitudes ou ações. É alguém que é dominado pelo “eu”, que só pensa em si mesmo e que acha que é independente de tudo e de todos. Na verdade, quando procura prevalecer sobre todos os demais, está apenas se destruindo, se prejudicando, já que não faz prevalecer a sua vontade, mas é usado pelo maligno para que a vontade do inimigo seja cumprida. No seu egoísmo, na sua suposta “autossuficiência”, o homem carnal só consegue se destruir e fomentar a destruição de quem está à sua volta. 

- Tomás de Aquino chega mesmo a dizer que a essência da “obra da carne” é precisamente esta desconsideração para com o outro, “in verbis”: “…Deve-se dizer, com Agostinho (Lib. 4 De Civitate Dei, cap. 2), que vive segundo a carne qualquer que viva segundo si mesmo. Por conseguinte, entende-se aqui carne como sendo todo homem. Então, tudo que vem do amor próprio desordenado é chamado de obra da carne.…” (Aos Gálatas. Lição 5: Gl.5:18-21, Com. Gl.5:18-31, n.35. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 03 nov. 2016) (tradução nossa de texto em espanhol). 

- Mas, além de não ter autodirecionamento nem cooperatividade, o homem carnal também não demonstra autotranscendência, ou seja, é incapaz de “enxergar um palmo adiante de seu nariz”. Está completamente alheio à realidade das coisas, à eternidade, que foi posta em seu coração pelo Criador (Ec.3:11 ARA), crendo que o que importa é o “aqui e o agora”, como se a existência se jungisse à nossa estada nestaTerra. Completamente cego para as coisas espirituais, para o que é eterno, o homem acaba se tornando um louco, um néscio, agindo como se fosse um animal irracional, guiado tão somente pelos seus desejos e instintos, não levando em consideração as consequências de seus atos diante da eternidade e da responsabilidade que terá diante do Senhor. Passa a viver como se Deus não existisse (Sl.14:1; 53:1), gerando uma série de situações e atitudes que são más, corruptas e abomináveis a Deus. 

- Após ter pecado, o primeiro casal fez entrar o pecado no mundo (Rm.5:12) e a entrada do pecado se deu, inclusive, no interior do homem, promovendo a separação entre ele e Deus, a morte do espírito, este elo de ligação entre Deus e o homem, fazendo surgir, neste “vácuo”, a “carne”, este “corpo do pecado”, que leva o homem a viver distante de Deus e a caminhar celeremente para a perdição eterna, num estado de amizade com o maligno, num estado de escravidão e opressão. 

- O homem carnal é simplesmente incapaz de fazer o bem. Como afirma João Crisóstomo: “…quando vocês vivima na malícia, na impiedade, com dor extrema, vocês mostravam uma tal docilidade quando estavam fazendo coisas que não tinham absolutamente nada de bom, porque isso é o que significam estas palavras: "Vocês foram livres em relação à justiça"; ou seja, não foram submetidos a ela, vocês eram totalmente estranhos para ela. Vocês não iriam compartilhar seu serviço entre a justiça e o pecado, mas você se livrariam completamente do mal.…” (Sobre Romanos: agora façam servir seus membros à justiça para sua santificação. Com. Rm.7:1-6, n.1200. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 03 nov. 2016) (tradução nossa de texto em francês). 

- O Senhor Jesus atesta esta triste realidade ao dizer que os homens são maus, mesmo quando ainda façam boas coisas pontualmente para o próximo (Mt.7:11). O homem carnal é mau porque está sob o domínio do pecado e, deste modo, nada pode fazer que seja bom, daí o Senhor ter dito que só um bom, que é Deus (Mt.19:17; Mc.10:18; Lc.18:19). 

- O Senhor, em seu colóquio com o mestre de Israel, Nicodemos, também disse que o que é nascido da carne é carne (Jo.3:6), a nos mostrar, portanto, que, do homem, nada poder vir senão obras da carne, incluindo-se aqui todas as religiões, todos os meios humanos surgidos para tentar obter a salvação da humanidade, a sua reconciliação com Deus. Não há quem possa livrar o homem do “corpo desta morte”. 

- A maior evidência de que o homem é carnal é a produção de “frutos para a morte”, é a demonstração de um estado de inimizade contra Deus, é a presença de ações e comportamentos que denunciam a distância, a separação entre Deus e o homem, condutas estas que o apóstolo Paulo denomina, na carta aos gálatas, de “obras da carne” (Gl.19-21). 

II – AS OBRAS DA CARNE 

- Paulo, em sua carta aos crentes da Galácia, está sobremodo preocupado com o fato de aquelas igrejas estarem dando ouvido aos judaizantes que os estavam convencendo a observar a lei de Moisés, visto que ensinavam que a observância da lei era um requisito para a salvação.

- O apóstolo, de forma vigorosa, mostra àqueles cristãos que, se eles adotassem a lei de Moisés, estavam a simplesmente desmerecer a fé em Cristo, única forma de se obter a justificação, de se tornar justo diante do Senhor e, no encaminhamento desta análise doutrinária, mostra que a salvação não é efetuada de fora para dentro, através da observância de um conjunto de mandamentos, mas, bem ao contrário, de dentro para fora, ou seja, a transformação operada por Deus em nosso interior é demonstrada por intermédio de um comportamento, que nos mostrará se somos, ainda, carnais e, portanto não regenerados, não nascidos de novo, ou se já nascemos novamente e agora vivemos para Deus. 

- O verdadeiro e genuíno salvo, diz o apóstolo, anda em espírito e não cumpre as concupiscências da carne (Gl.5:16), ou seja, como o próprio Paulo diria aos efésios posteriormente, não anda mais segundo os desejos da carne, não faz a vontade do pecado e do maligno (Ef.2:3). 

- Por isso, o apóstolo afirma, com muita segurança, que as “obras da carne” são “manifestas”, ou seja, revelam-se a todos. Pelos frutos, conhecemos as pessoas (Mt.7:16-20) e há uma “manifestação”, um aparecimento da realidade interior do ser humano através das suas atitudes. O homem carnal produz “as obras da carne”, os “frutos para a morte” (Rm.7:5). 

- A primeira obra da carne mencionada pelo apóstolo é a prostituição, que é a palavra grega “porneia” (πορνεία), cujo significado é o de “imoralidade sexual”, “relacionamento sexual ilícito”. Tem-se aqui o instinto sexual descontrolado, algo que existe no ser humano para o fim da procriação, um dever de todo ser humano (Gn.1:28; 9:1), que é desvirtuado e se torna num aviltamento do ser humano, tornado mero instrumento de prazer para o outro ou para si mesmo. 

- Vivemos dias em que este sexo pervertido, esta perversão sexual tem dominado muitas vidas, a partir da pornografia, que, lamentavelmente, tem sido um fator cada vez mais presente na vida daqueles que cristãos se dizem ser. As estatísticas mostram quantos que dizem servir a Deus estão, na verdade, dominados por esta chaga, a praticar esta obra da carne, que escraviza muitos na atualidade. 

- A segunda obra da carne mencionada é a impureza, que, no grego, é “akatharsia” (άκαθαρσία), cujo significado é “contaminação”, “impureza moral”. Tem-se aqui toda e qualquer conduta que se distancia da moral estabelecida na Palavra de Deus, toda e qualquer corrupção, toda e qualquer conduta desonesta, toda e qualquer “subserviência” à “vã maneira de viver” que herdamos de nossos pais (I Pe.1:18). 

- Quantos que cristãos se dizem ser, na atualidade, não estão a demonstrar serem carnais sendo impuros, contaminando-se com as maneiras de viver que existem no mundo, não adotando uma forma diferente de vida, mas, antes, conformando-se com o mundo, ou seja, tomando a forma do mundo, exatamente o contrário do que dizem as Sagradas Escrituras em Rm.12:2? 

- Hoje, muitos procuram criar algumas versões um pouco mais “suaves” do modo de viver mundano. A chamada “cultura gospel” nada mais é que a tentativa de adaptar “modus vivendi” contaminados sob uma suposta roupagem “cristã”, como se a “impureza” não fosse uma manifestação do domínio do pecado na vida das pessoas,uma “obra da carne”. Tomemos cuidado, amados irmãos! Jamais podemos abandonar o manacial das águas vivas para nos adaptarmos a cisternas rotas que retêm as águas, como fez a geração apóstata dos dias de Jeremias (Jr.2:13). Não pode haver comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14) e a mistura do santo com o profano somente gera profanação, jamais santificação (Ag.2:10-14). 

- A terceira obra da carne mencionada é a lascívia, que é a palavra grega “aselgeia” (άσέλγεια), cujo significado é de “incontinente”, devasso, imoderado, intemperante, alguém que é libertino, que não se controle, notadamente no que tange ao desejo sexual. Temos aqui, portanto, alguém que não tem poder de controle sobre os instintos, alguém que demonstra, assim, que não tem o Espírito Santo, que é incapaz de pôr sob controle os desejos da carne, vivendo segundo a vontade da sua natureza pecaminosa. 

- Muitos, na atualidade, vivem desta maneira, segundo o ditame mundano de que “é proibido proibir”, que não se pode controlar os desejos e instintos, de que “é preciso aproveitar a vida”, como se a nossa passagem por este planeta fosse a própria vida ou até mesmo uma parte substancial dela. 

- A quarta obra da carne mencionada é a idolatria, ou seja, a adoração a qualquer criatura como se ela fosse o Criador. A idolatria é apresentada pelo apóstolo Paulo como um passo adicional na degeneração do ser humano, resultado direto da rejeição a Deus. A partir do instante em que o homem rejeita a glorificar a Deus, não O reconhece como Senhor, surge uma situação de total ignorância e cegueira espiritual e o homem, sem o preecnhimento do “vazio” que exsurge em seu interior em virtude da ausência da comunhão com Deus, passa a buscar, desesperadamente, um substituto para o Senhor e acaba por mudar a glória o Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, em semelhança da imagem do homem corruptível, de aves, quadrúpedes e répteis (Rm.1:21-23). 

- A idolatria, introduzida por Ninrode em Babel, tem sido uma característica sempre presente na história da humanidade, circunstância que vem se reafirmando nestes dias em que vivemos onde ressurge com toda força uma “espiritualidade” entre os habitantes da Terra. Até mesmo os poucos países ainda comunistas no planeta, com todo o seu “ateísmo materialista”, não escapam da idolatria, como se pode ver nos cultos à personalidade existentes na Coreia do Norte, na China e ainda na Rússia, como estão a manifestar os mausoléus dos fundadores dos respectivos regimes naqueles países. 

- Paulo menciona uma espécie particular de idolatria como característica do “velho homem” a “avareza”, que foi explicitamente considerada como uma espécie de idolatria (Cl.3:5). 

- A quinta obra mencionada são as feitiçarias, que é a palavra grega “pharmakeia” (φαρμακεία), cujo significado é de “mágica”, “feitiçaria”, “bruxaria”, ou seja, a ilusão de poder controlar os poderes espirituais através de rituais e atitudes puramente humanas, que nada mais representa do que a invocação de poderes malignos, das potestades do ar, uma verdadeira adoração ao diabo e a seus anjos, aos demônios que, aliás, estão por detrás das próprias imagens utilizadas na idolatria (I Co.10:14-21). 

- Como já se disse, vivemos uma onda de “espiritualidade” que tem dominado o mundo nas últimas décadas, após o fracasso do discurso materialista e cientificista que ganhoucrédito entre o século XIX e a primeira metade do século XX. Esta “nova espiritualidade”, entretanto, é permeada de esoterismo e de magia, sendo, assim, um campo fértil para a renovação da “feitiçaria”, o que explica, e muito, o progresso do satanismo e de suas vertentes menos explícitas, como a “wicca” (a chamada “magia branca”). O triste é que este esoterismo e misticismo tem, também, invadido a seara dos que cristãos se dizem ser, como é evidenciado nas práticas que hoje se disseminam, como a “materialização da fé” e seus “amuletos” que hoje estão presentes em grande número de igrejas sedizentes cristãs (“rosa ungida”, “sal grosso”, “toalhinhas” etc. etc. etc.). 

- A sexta obra mencionada são as inimizades, a palavra grega “echtrai” (έχθραι), cujo significado é o de “hostilidades”, “oposições”, “ódios”. O que chama, de pronto, a atenção é a presença do plural. Não se trata de “inimizade”, mas, sim, de “inimizades”, a demonstrar aqui, claramente, a existência de insubmissão a Deus e da autoconsideração do homem como sendo o centro do universo, como sendo o referencial. Como cada ser humano sem Deus e sem salvação se acha independente do Senhor e o referencial do bem e do mal, surgem muitas “inimizades”, pois há um choque de egos, um choque de vaidades. É a “luta de todos contra todos” que se estabelece, em que todos querem dominar o próximo, para fazê-lo de mero instrumento de seu egoísmo. A inimizade contra Deus se transforma em inimizade contra o próximo. 

- A sétima obra da carne mencionada são as porfias, a palavra grega “eris” (έρις), cujo significado é briga, contenda, debate, luta, discussão, divergência. Como o homem carnal se vê como um “pequeno deus”, como a referência a ser seguida, obviamente que não vai concordar com o outro, que não reconhece como sendo existente, mas que considera apenas como sendo um instrumento da realização da sua própria vontade. Deste modo, não há concordância, mas sempre divergência. Não há acordo, mas somente divisão, pois tais pessoas não têm o Espírito Santo (Jd.19). 

- Vivemos dias de absoluta intolerância, inclusive entre os que cristãos se dizem ser, e isto tem sido demonstrado, com uma constatação que chega a assustar, nas redes sociais e na internet. A ideia de que estamos em sociedades evoluídas e plurais, tão divulgada pela mídia, vem sendo desmascarada por esta constatação – a tecnologia e o aumento dos meios de comunicação entre os homens apenas têm revelado seres humanos profundamente egocêntricos e incapazes de considerar o outro e de respeitá-lo. Não podia ser diferente, pois são homens carnais, que não têm o amor de Deus, que é o pressuposto para o amor ao próximo. 

- A oitava obra da carne mencionada são as emulações, a palavra grega “dzelos” (ζηλος), cujo significado é o de “ciúme”, “desejo de fazer mal”. O egocentrismo do homem carnal faz com que ele sempre maquine maus pensamentos em relação ao outro, que queira o seu mal, que queira destruí-lo, vez que o outro é sempre visto como uma ameaça a sua existência. Miqueias mostra como este sentimento leva pessoas poderosas a, durante a noite, maquinar o mal de pessoas socialmente inferiores (Mq.2:1,2) e a Bíblia mostra como o todo-poderoso Hamã não desfrutava de tudo o que havia conquistado única e exclusivamente porque tencionava fazer mal a Mardoqueu, um simples servidor no palácio real (Et.5:11-13). 

- O desejo de fazer mal a outrem é uma clara demonstração da sujeição ao maligno dos homens carnais. O inimigo, príncipe deste mundo, é homicida desde o princípio(Jo.8:44) e o homicídio nada mais é que o ódio contra o irmão (Mt.5:21-26). É triste vermos hoje muitos que cristãos se dizem ser manifestar este ódio contra o próximo, muitas vezes sob a piedosa máscara do “pedir justiça diante de Deus”. Chegamo muitos, aliás, a proferir maldições e a efetuar as malfadadas “orações contrárias”. Tal conduta é do homem carnal, jamais de quem se encontra servindo ao Senhor Jesus. 

- A nona obra da carne mencionada são as iras, a palavra grega “thymos” (θυμός), cujo significado é “paixão, “violência”, “indignação”, ou seja, um movimento impetuoso da alma, um desejo violento, mais uma manifestação do ego em detrimento do próximo, uma verdadeira “explosão” provocada por um sentimento próprio contrariado, que resulte numa atitude violenta e furiosa. Paulo também menciona esta atitude como algo característico do “velho homem” em Cl.3:8. 

- Em nossos dias, a violência tem se banalizado. A própria mentalidade das pessoas está sendo forjada, inclusive pelos meios de comunicação, a aceitar a violência, a tê-la como algo natural e previsível, o que, efetivamente, não corresponde à realidade que temos de buscar e fomentar. Em vez de violência, temos, isto sim, de aprender com o Senhor Jesus, que é manso e humilde de coração, a fim de alcançarmos descanso para as nossas almas e não uma inquietude e insegurança que nos leve ao furor e aos gestos violentos impensados (Mt.11:29). 

- A décima obra da carne mencionada são as pelejas, a palavra grega “eritheiai” (έριθείαι), que já percebemos tratar-se de uma palavra derivada de “eris”. Seu significado é intriga, fação, disputa, ou seja, uma discussão continuada, a continuação de uma divergência, a sua perenização, o desenvolvimento de um rancor oriundo de uma divergência pontual mal resolvida, algo como o que ocorreu entre os filisteus e Isaque. Depois de uma briga a respeito de um poço, que Isaque chamou de “Eseque”, cujo significado é “contenda”, houve novo desentendimento com relação a um segundo poço, que Isaque chamou de “Sitna”, cujo significado é “inimizade”, ou seja, algo que é continuado e que bem representa esta obra da carne (Gn.26:19-21). 

- O homem carnal não constrói relacionamentos saudáveis, mas, bem ao contrário, vai gerando atritos e desentendimentos continuados ao longo da sua existência, isto porque não considera o outro como igual, vê-se como unico referencial na Terra e exige que todos estejam a seu serviço. Como dizia o primeiro-ministro inglês Benjamin Disraeli (1804-1881): “a Inglaterra não tem amigos, tem interesses”. É esta a mentalidade reinante nos relacionamentos ditados pela carne. 

- A décima primeira obra da carne mencionada são as “dissensões”, a palavra grega “dichostasiai” (δχοστασίαι), cujo significado é “desunião, divisão, sedição”. A dissensão é a ação de dividir, de desunir, algo que é sinal da ausência do Espírito Santo na vida da pessoa (Jd.19). O homem carnal vive separado de Deus por causa do pecado e, portanto, a sua natureza é própria da divisão, da separação, do desconhecimento do que é unir. União é trabalho divino, é o trabalho que o Senhor Jesus veio fazer nesta Terra (Jo.17:21), Deus opera na união (Sl.133). 

- Todos quantos estão a fomentar a desunião entre os irmãos, que estão a promover dissensões, separações e divisões são pessoas diretamente envolvidas com a carne, pessoas dominadas pelo pecado e que, portanto, jamais podem ter lugar em nossas vida sou em nossas igrejas locais. Não nos esqueçamos que o semar de contendas entre os irmãos é algo abominável diante de Deus (Pv.6:16-19). 

- A décima segunda obra da carne mencionada são as heresias, ou seja, as “escolhas”, as “opções”, entendidas aqui como as doutrinas e ensinamentos escolhidos pelo homem em detrimento da verdade, da Palavra de Deus (Jo.17:17). É a demonstração da independência em relação ao Senhor, a ponto de se desconsiderar o que Deus ensina através da Sua Palavra, para se passar a crer e a ensinar em seus próprios pensamentos e conceitos. É dizer que Deus é mentiroso e que o que vale é o que homem pensa, o que o homem acha a respeito das coisas. 

- Os dias em que vivemos, dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja, são dias de proliferação de heresias, de falsos ensinos, de falsos cristos, falsos profetas e falsos mestres (Mt.24:4,5,11,24; II Pe.2:1). Devemos ter todo o cuidado, pois multidões estão correndo atrás de falsos doutores que estejam de acordo com as concupiscências dos pecadores (II Tm.4:3,4). O aparecimento de heresias, no entanto, é necessário para que se manifestem os sinceros servos de Cristo Jesus (I Co.11:19). 

- A décima terceira obra da carne mencionada são as invejas, que são os desejos de que o outro fracasse e perca o sucesso alcançado, sobre o que não nos deteremos, já que haverá uma lição que dela tratará ao lado da qualidade da alegria, na lição 4. Por ora, basta-nos dizer que a inveja foi a razão pela qual o diabo acabou por ser expulso do céu, como também a do primeiro homicídio e o móvel que fez com que os principais dos sacerdotes quisessem entregar Jesus à morte (Mt.27:18). Ainda hoje, muitos correm o risco de matar Cristo em suas vidas por causa da inveja. 

- A décima quarta obra da carne são os homicídios que, conforme já vimos, nada mais é que o desenvolvimento do ódio que existe dentro de um coração em relação a alguém. O Senhor Jesus disse que ser homicida é odiar o próximo, pois, quem odeia o próximo, tendo oportunidade, acabará por derramar o sangue daquele que é odiado. Quando alguém se faz homicida está a demonstrar claramente que é filho do diabo, pois ele é homicida desde o princípio (Jo.8:44). 

- A décima quinta obra da carne são as bebedices, a palavra grega “methai” (μέθαι), cujo significado é “intoxicados”, “contaminados”, “embriagados”, revelando aqui a submissão aos efeitos de uma substância entorpecente, via de regra, o álcool, mas que se pode aplicar a qualquer outro tipo de substância. O homem carnal é aquele que se deixa dominar por qualquer coisa. No seu egoísmo, egocentrismo e desejo de independência de Deus acaba por se submeter a ídolos, a desejos pecaminosos inconsequentes e a substâncias que o viciam e o fazem, não raras vezes, perder o raciocínio e a própria credibilidade e dignidade. 

- Vivemos dias em que considerável parte da população está escravizada por vícios da mais diversa natureza, principalmente no que respeita ao uso de substâncias entorpecentes, seja, ou não, permitidas pela legislação. O álcool, o tabaco, as mais diversas substâncias psicotrópicas (maconha, haxixe, cocaína, crack, heroína, LSD, ecstay, ópio etc.) têm dominado e destruído a vida de milhões e milhões de pessoas. O homem, querendo se tornar um “deus”, transforma-se num “marionete” de tudo o que existe sobre a face da Terra.

- O mais triste de tudo isto é que muitos que cristãos se dizem ser são, também, dominados por estes vícios, tentando justificá-los através de argumentos que a ninguém convencem, nem a eles mesmos. Paulo foi bem claro ao dizer que o verdadeiro servo do Senhor Jesus não se deixar dominar por coisa alguma (I Co.6:12). 

- A décima sexta obra da carne mencionada são as glutonarias, a palavra grega “komoi” (κωμοι), cujo significado é “comemorações, festejos, mas significando os excessos, os abusos”. Tem-se, aqui, uma vez mais, a demonstração do descontrole, da falta de domínio sobre os instintos, no caso os gerados por uma celebração, por uma festa, a perda da moderação e do autodomínio. As festividades na Antiguidade, não raras vezes, acabam por degenerar em orgias, bacanais e licenciosidades, como se vê, por exemplo, no banquete do rei babilônio Belsazar (Dn.5). 

- Nos dias em que vivemos, as festas e comemorações não são diferentes, degenerando em situações e ambientes altamente reprováveis, onde há o consumo de drogas, a prática da mais vergonhosa imoralidade. Não são poucos, porém, os que cristãos se dizem ser que estão a copiar este triste e lamentável modelo, querendo cada vez mais parecer “sociais”, introduzindo elementos mundanos, inclusive em celebrações de suas igrejas locais, transformando “cultos” em verdadeiros “shows”, onde vemos todo o tipo de abuso sendo cometido. 

- Depois destas dezesseis obras da carne, o apóstolo se utiliza de uma expressão genérica, a saber, “coisas semelhantes a estas”, a indicar que, no domínio do pecado, não faltarão “novidades” e “novas práticas” a manifestar o distanciamento de Deus e a submissão ao maligno. 

- O saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2011), quando mencionava este texto, fazia questão de enumerar uma série de ações que hoje são realizadas e que bem demonstram o domínio do maligno sobre as pessoas. A “criatividade maligna” não tem limites e tudo o que distancia do Senhor e faz com que as pessoas deixem o Senhor e a eternidade de lado são “coisas semelhantes a estas”, são ações que revelam a cegueira espiritual e a falta de comunhão com Deus na vida da pessoa. 

- Nos dias de hoje, quanta coisa tem servido apenas para que o egoísmo seja intensificado em nossas vidas? Quanta coisa nos tem feito perder o controle sobre os nossos instintos e a desejar apenas o que se sente e se tem agora e aqui, sem qualquer consideração com a eternidade ou com a prestação de contas que teremos de fazer diante do Senhor? Quanta coisa não nos tem feito deixar de dar valor às coisas espirituais e a nos prender ao que é terreno e passageiro? Quanta coisa nos tem feito desconsiderar as bênçãos espirituais que estão à nossa disposição? Tudo isto é “obra da carne”, porque produz “frutos para a morte”, porque serve para nos levar para a perdição eterna, porque nos faz ficar mais longe de Deus. 

- Tanto é assim que, em outras passagens, o apóstolo Paulo, ao falar do “velho homem”, faz menção de outras práticas que também são “obras da carne”, como, por exemplo, a mentira (Ef.4:25; Cl.3:9), ensino que nos faz lembrar do ensino de Nosso Senhor e Salvador, quando mostrou ser uma característica do “filho do diabo”, a prática da mentira, já que o diabo é o pai da mentira (Jo.8:44).

- Outra prática comum ao homem carnal é o furto e a ojeriza ao trabalho (Ef.4:28), pois a rebeldia contra Deus e Senhor de todas as coisas faz com que o homem, em sua oposição ao Senhor, não só queira se assenhorear de tudo, não considerando a legítima aquisição da propriedade por parte do outro, direito este gerado pelo próprio Deus (Gn.3:19), como também tem uma natureza totalmente contrária à divina, que é a natureza de um ser trabalhador (Jo.5:17). 

- Outra obra da carne é a pronúncia de palavras torpes em nossa boca (Ef.4:29; Cl.3:8), consideradas aqui palavras “podres”, ou seja, não só os chamados “palavrões”, as palavras obscenas, mas, também, toda e qualquer palavra que tenha o objetivo de ferir, magoar ou destruir alguém, como as chamadas “críticas destrutivas”, pois aí estaremos tão somente a pôr a língua a serviço da maldade e da malignidade. 

- Outra prática que é também obra da carne que Paulo menciona em Efésios é a amargura (Ef.4:31), a palavra grega “pikia” (πικία), cujo significado é “amargor”, mas, especialmente, “veneno”, a nos lembrar o efeito danoso que o escritor aos hebreus fala da “raiz de amargura”, que nos pode privar da graça de Deus (Hb.12:15) e que nada mais é que uma manifestação do ego que pode nos contaminar e nos fazer perder a salvação. 

- Também Paulo menciona a “cólera” (Ef.4:31), a palavra grega “orgé” (όργέ), cujo significado é de “violenta paixão, vingança, furor”, que difere de “thymos”, porque, enquanto esta vem de dentro do ser, aquela é motivada por fatores alheios, pelas circunstâncias, pois o homem carnal, como já vimos, não tem autodirecionamento, anda segundo o curso deste mundo, é “maria-vai-com-as-outras”. 

- Paulo também menciona a “gritaria” (Ef.4:31), a palvra grega “kraugé” (κραυγή), que tem o significado de “clamor, choro”, ou seja, um grito em voz alta, a demonstrar descontrole emocional e desrespeito para com o próximo, algo que, lamentavelmente, costuma-se ver em diversos lares de sedizentes cristãos. 

- Outra obra da carne é a “blasfêmia” (Ef.4:31) ou “maledicência” (Cl.3:8), que é o desrespeito, a difamação em relação a Deus e às coisas sagradas, algo cada vez mais comum em nossos dias e que, infelizmente, chega a ser compartilhado e enaltecido por gente que se diz serva de Deus e que, inclusive, contribui para o sucesso de supostos “humoristas” que não têm qualquer reverência nem respeito para com a fé das pessoas, para com o que é sagrado e santo. 

- Outra obra da carne que Paulo menciona é a malícia (Ef.4:31; Cl.3:8), a palavra grega “kakía” (κακία), cujo significado é “maldade, depravação, malignidade, grosseria, impiedade”, ou seja, toda atitude maligna, que tem por objetivo levar ou desejar o mal a outrem, exatamente o contrário do que fez o Senhor Jesus enquanto esteve entre os homens (At.10:38). 

III – OS EFEITOS DAS OBRAS DA CARNE 

- Notamos, portanto, que o apóstolo Paulo apenas fez menção de algumas obras da carne, dando exemplos de práticas que seriam como uma “extensão” do domínio do pecado sobre o ser humano. São os feitos do velho homem (Cl.3:9) e, quando o apóstolo se utiliza da palavra “práxis” neste texto de Colossenses, está mesmo a dar aideia de que são ações que manifestam, exteriormente, o que há no interior do ser humano dominado pelo pecado. 

- Por isso, o apóstolo não quis esgotar o assunto, pois sabia que sempre haveria uma “criatividade maligna” para forjar atitudes e condutas que, em contraposição aos mandamentos divinos e à santidade, viriam para tentar enganar o ser humano e distanciá-lo cada vez mais de Deus. Afinal de contas, o maligno é a mais astuta de todas as criaturas (Gn.3:1) e sempre possui ardis para tentar enganar o homem (II Co.2:11). 

- Não nos esqueçamos de que o objetivo do apóstolo era mostrar aos gálatas que a salvação do homem se dá única e exclusivamente pela fé em Cristo Jesus e que, portanto, inexiste qualquer exigência do cumprimento de rituais e formalidades exteriores para se alcançar a salvação, como estavam a ensinar os judaizantes que queriam que os gálatas passassem a observar a lei de Moisés, especialmente a circuncisão, para que pudessem se considerar como pessoas salvas. 

- O apóstolo mostra que a salvação é um fenômeno que nasce dentro do coração do homem, é uma atitude interna que se manifestará externamente através de uma conduta que revela a nossa pertença a Deus, a nossa vida para Ele, por intermédio da graça que há em Cristo Jesus. 

- O salvo nasce de novo, é uma nova criatura e isto é o mais importante saber em termos de salvação. O apóstolo vai dizer que o mais importante é ser uma nova criatura (Gl.6:15), sendo irrelevante a observância de rituais ou de uma exteriorização ritual da fé. - É precisamente por causa disto que o apóstolo enfatiza a importância de sabermos se estamos a praticar as obras da carne ou o fruto do Espírito, que é o comportamento daquele que foi realmente salvo na pessoa de Jesus Cristo. 

- Ao elencar, ainda que exemplificativamente, as obras da carne, o apóstolo Paulo quis ensinar aos gálatas e, por conseguinte, a todos nós, o mesmo que seria ensinado, também, por Tiago, irmão do Senhor, ou seja, que a fé é necessariamente acompanhada de boas obras (Tg.2:14-26). 

- Quando confrontado pelos judeus com respeito à Sua messianidade, o Senhor Jesus foi peremptório: “quem dentre vós Me convence de pecado?” (Jo.8:46). Precisamente, quando mostra aos judeus que eles eram filhos do diabo e não filhos de Abraão ou filhos de Deus, como se autointitulavam, por serem pessoas dominadas pelo pecado, Cristo mostra que era diferente deles por não ter o pecado como prática em Sua vida, por ser o Santo, o Filho de Deus (Lc.1:35). 

- Os servos de Jesus Cristo devem imitá-l’O (I Co.11:1), seguir-Lhe o exemplo (I Pe.2:21) e, portanto, também devem ostentar uma vida isenta de pecados. Se é verdade que o homem não é um ser impecável, ou seja, está sujeito sempre a pecar (I Rs.8:46; II Cr.6:36), também não é menos verdadeiro que o homem que recebeu a salvação na pessoa de Cristo é uma “nova criatura” (II Co.5:17), e esta “nova criação” não peca (I Jo.3:9). Assim, quando se mantém a natureza pecaminosa crucificada com Cristo (Gl.2:20), não há a prática do pecado, já que o homem estará em comunhão com o Espírito Santo e terá plenas condições de vencer o maligno, visto que tem a fé em Cristo (I Jo.5:4,5). 

- Destarte, não é a presença de uma marca no corpo físico, como é a circuncisão, que atestará se alguém é de Deus, ou não, se é salvo, ou não, mas, sim, a prática de obras da carne ou a produção do fruto do Espírito Santo. - Nota-se, portanto, que, ao elencar quais são as obras da carne, o apóstolo diz quais são as verdadeiras marcas que devem ser observadas para sabermos se alguém é, ou não, um salvo na pessoa de Cristo Jesus e isto nos faz observar que a prática das obras da carne é um sinal de que a pessoa não é membro do corpo de Cristo, não é alguém que está caminhando para o céu. 

- Encontra-se aqui o “perigo” das obras da carne, que é o título de nossa lição, ou seja, a prática das obras da carne, a prática do pecado é um comportamento que nos separa de Deus e que nos vai distanciando mais e mais da presença do Senhor, levando-nos à perdição eterna, caso não haja arrependimento, numa descida espiritual ilimitada, que leva a cada vez maior degeneração, como o próprio apóstolo Paulo descreve em Rm.1:18-32. 

- Após elencar as obras da carne, o apóstolo é bem claro ao mostrar que quem pratica tais obras da carne não herdará o reino de Deus (Gl.5:21). Se não herda o reino de Deus, é porque não é herdeiro. Se não é herdeiro de Deus, isto significa que quem pratica as obras da carne é alguém que não é filho de Deus (Rm.8:17). 

- Ora, o filho de Deus é alguém que teve um encontro com o Senhor Jesus, que creu n’Ele como seu único Senhor e Salvador e que, por isso mesmo, é guiado pelo Espírito de Deus (Rm.8:14), tendo recebido o espírito de adoção de filhos e não o espírito de escravidão (Rm.8:15). É pessoa que não vive pecando, que não é escrava do pecado (Jo.8:34). Se estiver na prática constante do pecado, tem-se hipótese de alguém que não é salva, ou porque nunca foi salvo, ou porque perdeu a salvação uma vez obtida. 

- Como o homem, mesmo salvo, não deixa de ter a natureza pecaminosa, o “corpo do pecado”, que somente desaparecerá quando da glorificação, é possível que um salvo peque, mas, quando o fizer, se realmente for um salvo, imediatamente pedirá perdão ao Senhor Jesus e alcançará a misericórdia divina (I Jo.1:8-2:2). 

- Como afirma o nosso comentarista, o pastor Osiel Gomes da Silva: “…Transformado pelo poder do Evangelho de Cristo, o homem recebe uma nova vontade, a qual lhe capacita a querer fazer a vontade de Deus, pois agora a vontade divina com a humana está amalgamada, de modo que o homem está liberto para seguir aquilo que é perfeito (Mt 5.48). Por meio dessa nova vontade o cristão procura viver em santificação, pois seu alvo é firmar bem sua salvação (2 Ts 2.13). No encontro de Deus com o homem, que se dá através da cruz de Cristo, a verdadeira liberdade acontece (Jo 8.32), de modo que o homem, por meio do seu livre-arbítrio, pode viver a bênção da plenificação da salvação em sua vida, pois não vive mais debaixo da lei do pecado, mas sim na lei do Espírito Santo de Deus (Rm 8.1,2).…” (O livre-arbítrio. 21 ago. 2016. Disponível em: http://1pastorosielgomes.blogspot.com.br/2016/08/livre-arbitrio.html Acesso em 03 nov,. 2016.

- Por isso, todo salvo deve ser vigilante, estar sempre em aproximação contínua ao Senhor, que é a santificação, para que não venha a cair (I Co.10:12), pois o Senhor lhe deu todas as condições, quando da salvação, para vencer o pecado, o mundo e a carne. Se passarmos a praticar as obras da carne sem cuidado, distanciar-nos-emos do Senhor e acabamos por matar o “novo homem”, perdendo, assim, a salvação. Passar a uma vida pecaminosa é escarnecer de Deus, é expor ao vitupério o Filho de Deus (Hb.5:6) e a consequência disto é um enorme afastamento do Senhor, com consequências nefastas e funestas a seu praticante, visto que isto leva a escândalo no meio do povo de Deus, o que é apontado como algo extremamente grave pelo Senhor Jesus (Mt.18:6-14), como também demonstra um sentimento de rebeldia que, ao menos, resvala para a apostasia, como indica o escritor aos hebreus (Hb.6:4-8). 

- Tanto assim é que, na lei de Moisés, o pecado denominado de “à mão levantada”, ou seja, premeditado, querido como uma consciente ação de rebeldia e de afronta a Deus, não permitia qualquer expiação por meio de um sacrifício (Nm.15:27-31). Ora, sendo a lei a sombra das coisas futuras (Hb.10:1), tem-se que uma atitude desta ordem não permite que se tenha a possibilidade da salvação por meio do sacrifício vicário de Cristo, pois aí se tratará “…de um desvio intelectual, de "um saltar de banda" da Verdade do Evangelho. É a renúncia voluntária do conhecimento da Verdade (Hb. 10:26). É o "pisar o Filho de Deus", é o "tomar por profano o Sangue do Testamento", é o fazer "agravo ao Espírito da Graça" (Hb.10:29). Aquelas pessoas depois de receberem tanto, descuidadas de atingirem a verdadeira conversão, abandonaram o Cristianismo e voltaram ao judaísmo. Não se trata, pois, de alguma fraqueza ou de um pecado em que caíram. É um ato específico e determinado da vontade pelo qual o crente nominal rejeita em definitivo o Plano da Salvação.…” (REIS, Anibal Pereira dos. Hebreus 6:4-8 e Hebreus 10:26-31. Disponível em: http://solascripturatt.org/SoteriologiaESantificacao/Heb6.1-8-PodeOCrentePerderSuaSalvacaoAPReis.htm Acesso em 03 nov. 2016). 

- Daí a grande importância de bem definirmos o caráter cristão, de sabermos efetivamente que somente aqueles que estiverem realmente em Cristo Jesus, na videira verdadeira, produzindo o fruto do Espírito Santo, será um salvo, alguém que tem a vida eterna, pois, caso contrário, será cortado e lançado fora (Jo.15:1-6). Estejamos, pois, em Cristo e isto implica em não passarmos a praticar as obras da carne, em não descuidarmos de nossa vida espiritual. 


– As obras da carne e o fruto do Espírito 
– Como o crente pode vencer a verdadeira batalha espiritual travada diariamente. 
- COMENTARISTA: Osiel Gomes da Silva 

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