Jorge Fernandes
Não sei porque, cargas d'água, decidi
fazer este pequeno texto sobre o determinismo. Espero ainda realizá-lo
de forma ampla, explicativa, e que possa eliminar as dúvidas dos que
questionam essa doutrina. Este é apenas um resumo mal-acabado do que
penso e, por isso, caso esqueça-me, reitero que o determinismo bíblico é
plena e claramente verdadeiro, lógico e racional. E de que não tem nada
a ver com o fatalismo filosófico ou de outras cosmovisões, como alguns
insistem e não se cansam de afirmar, tal qual o operador de máquinas
aperta porcas e parafusos sem ferramentas, porcas ou parafusos...
atarrachando o vento.
Antecipo,
primeiramente, o meu conceito de determinismo, como sendo todas as
coisas, materiais e espirituais, seja a natureza, atos, vontade,
pensamentos, etc, subordinados ao eterno decreto de Deus. Em linhas
gerais, toda a criação está sujeita à vontade decretiva e providente de
Deus. De tal forma, que se uma folha cair, é porque Deus determinou que
caísse. Se não, é porque Deus determinou que não caísse. De tal forma,
que se escolher um sorvete de laranja ao invés de um sorvete de coco, é
porque Deus determinou até mesmo essa escolha. Seja nos eventos
complexos ou nos mais insignificantes, eles somente acontecem pela
vontade divina.
Sou
o que se pode alcunhar de determinista absoluto ou radical; porque, por
mais que leia a Escritura e raciocine sobre inúmeras questões
levantadas em suas páginas, não vejo maneiras do homem se desvencilhar
do controle divino; não há a menor hipótese do homem ser livre de Deus,
ao ponto de fazer qualquer coisa sem que o Todo-Poderoso tivesse pensado
e decidido previamente que aconteceria. Para muitos, posso ser taxado
de simplista ou reducionista, mas o fato é que o controle absoluto de
Deus sobre todas as coisas em nada retira de mim a responsabilidade por
minhas decisões, as quais são minhas, realizadas pela minha vontade, de
maneira que se não as quisesse, não aconteceriam. Porém [e há um grande
porém], se Deus não as tivesse decretado, eu jamais as quereria e
realizaria.
No
decreto eterno encontramos a descrição de todos os eventos acontecidos,
que estão a acontecer, e que acontecerão na história, os quais não
podem ser anulados, revogados ou transformados, pois, infalivelmente,
Deus não somente os planejou mas também sustenta-os em todas as suas
nuances, detalhes, essência e realização; e, inexoravelmente,
cumprir-se-ão segundo a sua vontade; como estabeleceu na eternidade,
antes da fundação do mundo.
Logo,
qualquer conceito de liberdade, livre-agência ou compatibilidade entre
Deus e o homem é somente aparente, não existindo de fato.
Como
sugestão à reflexão, a história do Faraó e o endurecimento do seu
coração por Deus é o exemplo mais emblemático do tipo de determinismo a
que me refiro. Ainda mais emblemáticas são as mais de sessenta profecias
sobre Cristo, apenas na crucificação. E elas estavam intimimamente
ligadas às ações e pensamentos humanos. Todos infalivelmente decretados e
pré-ordenados sem que nenhum dos personagens envolvidos pudessem fazer o
que não fizeram, ou estivessem em condição de realizar algo à margem ou
alheio ao que Deus determinara. Os acontecimentos estão intrisecamente
ligados à vontade divina ao ponto em que, se apenas um deles não
acontecesse conforme estabelecido eternamente, a vontade divina não se
cumpriria, sequer existiria como vontade soberana, e uma cadeia de fatos
surpreendentes trariam desordem e caos ao mundo, e teríamos fatos
imprevisíveis, acontecendo incontroláveis, significando o que muitos
sequer imaginam: a indeterminação das coisas e a quebra da ordem,
culminando na não-soberania de Deus. Por isso, as profecias reveladas
séculos antes se cumpriram: as suas vontades estavam em completa
sujeição à vontade divina, indicando que partiram da mente onisciente de
Deus, e se realizaram pelo seu onipotente poder de fazer tudo o que lhe
apraz.
Da
mesma forma, pergunto: como ficam passagens em que Deus diz cegar o
homem? Para que vendo não veja, ouvindo não ouça, e não se arrependa?
Como explicar o que o Senhor disse a respeito de Betsaida e Corazim? De
que "se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se
fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com cinza" [Mt
11.21]? Ora, se em Tiro e Sidom Jesus realizasse os milagres que fizera
em Corazim e Betsaida, aqueles se converteriam e, portanto, o que
aconteceu é que não houve pregação naquelas regiões, Cristo não fez
milagres por lá, e eles não puderam se converter, porque não estava
determinado que houvesse conversões entre eles. Cristo não fez milagres
mesmo sabendo que, caso vissem, se converteriam; ao passo que preferiu
pregar e operar milagres em Betsaida e Corazim, sabendo que não se
converteriam ainda que vissem e ouvissem. Isso não pode ser somente
presciência, mas o poder de Deus de condenar tanto uma como outra
cidade.
O
fato é que por onde Cristo não operou milagres capazes de levá-los à
conversão, mesmo considerando que eles teriam olhos para ver, nada
aconteceu porque esta foi a sua vontade; e nos locais onde operou
milagres, cegou-lhes os olhos a fim de não verem, fechou-lhes os ouvidos
a fim de não ouvirem, para que não se convertessem. Nenhum homem irá ao
inferno sem que Deus queira. Isso é fato. E nenhum homem será salvo,
livrando-se do inferno sem que Deus queira. Novamente, fato.
Outro
fato inquestionável é que somos livres, se assim faz-nos sentir melhor.
Contudo, a nossa liberdade está acorrentada à vontade e aos desígnios
divinos, aos santos, perfeitos e eternos desígnios divinos, que até
mesmo são capazes de levar à crença em... algum tipo de liberdade, ou
qualquer outra coisa que Deus queira que acreditemos... e que ele nos dá
acreditar que temos.
0 comentários:
Postar um comentário